sábado, 15 de dezembro de 2007

"Distant Star": THE FOREIGN FILMS!


Quantas vezes não nos pegamos de olhos fechados, explorando paisagens imaginárias delineadas de acordo com as ondas sonoras que absorvemos? Climas inspirados por canções que têm o poder de alterar sensações, seja na mudança simples de um acorde ou na fluidez de uma bela melodia. Respostas emocionais que se mescladas a imagens, como faz o cinema, traz à tona com rapidez todo o fluxo de sentimentos que naquele momento se processa na vida do ouvinte.

E foi seguindo esse processo, pela via inversa, como emissor, é que o canadense de Hamilton Bill Majoros, colocou as experiências de seus três anos passados como uma trilha sonora em Distant Star. Álbum debut do projeto solo de Majoros, The Foreign Films, o disco traz dois CDs e 22 faixas. Bill (originalmente músico de estúdio e membro de bandas como The Cloudsmen e Flux Ad) contou com a participação de diversos amigos no projeto, mas executou uma infinidade de instrumentos como guitarras, baixo, bateria, órgão, piano, xilofone, vibrafone, além dos vocais.

O resultado prima pelo ecletismo em ambiências suaves e oníricas. Passeia por orquestrações guiadas ora por vocais psicodélicos como em “Remenber To Forget” ora por melodias pop como em “Another World Behind The Sun”. A faixa título “Distant Star” segue pela beleza melancólica do trip hop noventista, lembrando, a cântaros, o Portishead. Guitarras cantam mais alto em “Clouds Above The Radio Towers” e realçam o timbre vocal amigável de Majoros. “The Grand Unknown” embala como os grandes sucessos românticos dos anos 50/60, quando pop stars eram também film stars. Abrindo o disco dois, o sotaque pop de “The Lonely #1” anima o salão e entrega a dança para a doce “My Heart Can’t...”. A levada e as pausas de andamento só valorizam a melodia envolvente de “Too Good To Last”. “Smoke and Mirrors” revela que o disco dois gosta mais das guitarras rock e das tramas melódicas do pop. Mas que não esqueceu como se faz uma bonita e triste canção, com vibrafones, trumpete, violinos e melodia emocionante: “Raindrops Of The World Descend (Disappearing Act)”.

Os Indefectíveis ‘pa-pa-pa’, do cativante pop sessentista de “Polar Opposites”, mostram toda a capacidade de Majoros em cambiar a polaridade do humor de suas canções, sem perder relevância. Também nunca é tarde lembrar as influências de Lennon e Cotton Mather no som do Foreign Films – “Cinema Lights” nos refresca a memória com extrema elegância. A pegada rocker, o refrão colante de “Reason Or Rhyme” e “Árcade By The Beach” empolgam e surpreendem quando percebemos que chegamos à vigésima e vigésima primeira músicas sem uma gota de tédio. E ainda restam os quase nove minutos de “The Snowglobe”, estrategicamente divida em três partes - a vitória do pop orquestral, se mantendo consistente e agradável ao mesmo tempo.
E talvez tenha sido essa a intenção de Majoros: forjar a trilha sonora da sua vida, com momentos de clímax, reflexão, diversão, sem perder o sólido fio condutor.
Uma sutil beleza erudita entremeada pelo prazer fácil do pop, em um disco duplo admirável.

www.theforeignfilms.com
www.myspace.com/theforeignfilms

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

"Evan Hillhouse": EVAN HILLHOUSE!


Há algumas semanas, apresentei aqui o cantor-compositor californiano Blake Collins como o menino prodígio de L.A. Pois bem, se Collins é prodígio, Evan Hillhouse é fenômeno. Do alto de seus 18 anos e direto das carteiras escolares do segundo grau, o cantor-compositor de Simi Valley, também Califórnia, chega com seu impressionante disco homônimo de estréia. É de se esperar que um menino recém saído da infância, esteja mais interessado em marcar sua nova posição de adolescente à base de muita rebeldia. Seja gritando sua indignação em uma banda punk ou querendo assombrar os pais num combo de death metal. Mas a maturidade chega precocemente para poucos, que, em alguns casos, são os chamados gênios. Nem mais nem menos, é como podemos chamar Hillhouse: gênio.

Seu primeiro álbum não deixa dúvidas quanto a isso - o menino toca todos os instrumentos (guitarras, baixo, bateria, acordeão, piano, mellotron, ukelele, órgão Hammond, mandolin, teremim, vibrafone, etc, etc...) - além de fazer a voz principal e as harmonias vocais. Revela também seu gosto por timbragens vintage, usando guitarras Gretsch, baixo Rickenbaker e bateria Ludwig. Claro que tudo isso não seria relevante se Hillhouse não dominasse arte da composição. E é aqui que aparece o diferencial: o americano soa como um artista maduro, com referências clássicas, de Beatles a Zombies, de Harry Nilsson a Burt Bacharad.

A faixa de abertura “Theme” é instrumental, com piano acompanhado por um acordeão, desfilando uma melodia elegante, agradável e clássica. “I Love Like You” traz o ritmo ao piano, para se acompanhar no estalar dos dedos e todo mundo junto no “uh-la-la-la”. Em seguida a batida espertíssima de “Green Arrow”, com sotaque jazzy, melodia refrescante, viradas de bateria precisas e intervenções de guitarra perfeitas. Nesse ponto Hillhouse já mostra porque está à milhas da concorrência juvenil. “Sleeping With A Friend” traduz a ambição pop do mutiinstrumentista: melódica e assobiável. Leve batida de valsa na orquestrada “Nothing To Lose”, adornando a melodia com sons de violino. A envolvente “Making The Most Of It” traz o clima jazz-pop descontraído na linha de Ben Folds e afins.

O tom de certa dramaticidade de “Can’t Stop Saying Yes” é dado pelas entradas de um teremim, mas que dilui-se nas passagens piano-pop da canção. “Dramatic Reruns” é balada com baqueta vassourinha, trumpete e piano para dar o tom intimista e letra sobre o fim de relacionamento, que certamente Hillhouse não tem idade para viver. “Reason To Live” confirma a veia pop do artista, sempre guiada pela notas do piano. “Hanging By A Thread” vem num crescendo até explodir no refrão impregnado de mellotron, harmonizações celestiais e melodia grandiosa. Como todo o álbum acaba soando e surpreendendo pelo poder de composição de um a garoto recém-saído das fraldas - e que promete muito em se tratando da música pop. E eu só me pergunto uma coisa: o que esse geniozinho estará aprontado daqui a dez anos?

www.evanhillhouse.com
www.myspace.com/theshrines