segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

"Luck": WIRETREE!

O homem é um ser de reminiscências. E uma canção pode ter o dom de acioná-las instantaneamente. Seja o prazer solitário de sentir a brisa fresca acariciar o rosto num fim de tarde nas melhores férias da sua vida ou a dor aguda e profunda quando sua maior paixão se vai sem nem olhar para trás. Mas o homem também é um ser de desejos. E uma canção pode torná-los reais, pelo menos enquanto soar. Sentidos que são tocados pela mágica inexplicável da montagem de notas, acordes, melodias e harmonias, da canção pop perfeita.

E é essa montagem que Kevin Peroni e seu Wiretree fazem com extrema destreza e sensibilidade, tornando Luck – segundo disco cheio do quarteto de Austin, Texas - um dos álbuns mais bonitos do ano. Aqui Peroni conseguiu refinar arranjos, evoluir melodicamente, aprofundar as ambiências emocionais e, ao mesmo tempo, tornar a sonoridade do Wiretree mais acessível. Mesmo considerando-se alguns ecos sessentistas no som da banda, Luck é um disco talhado para a modernidade. Não para os bailes de máscaras e aparências das pistas de dança, mas para o nosso interior despido e autêntico.

Não interessa quem você tem de ser ou representar lá fora. Luck apenas te traz de volta a seus pensamentos de ingênua pureza, sonhos inalcançáveis, ou mesmo as lembranças mais secretas. Assim “Across My Mind” vai chegando com seu violão macio, na sua batida de piano inspiradora e voz doce e confessional de Peroni – algo no clima do mestre Elliott Smith. Vibrafones soam como se viessem da canção de ninar mais adorável e pontuam a melodia celestial da emotiva e belíssima “Back In Town” – e pronto, seus desejos e reminiscências foram imediatamente acionados!

Batida marcial com leve riff rock’n’roll e o vocal angelical de Peroni fazem viajar em “Rail”. “Days Gone By” mescla clima onírico com atmosfera pop com tamanha maestria que me faz perguntar: aonde canções do Coldplay chegaram que esta não poderia chegar? Já a balada “Falling” é de beleza triste e cortante, e pode emocionar tanto quanto “Fake Plastic Trees” do Radiohead. “Information” vem com batida e melodia envolventes, enquanto “Satellite Song” poderia estar tranqüilamente no disco novo de Brendan Benson e ser celebrada mundo a fora.

A bela canção-título soa como clássico pop atemporal e a reflexiva e climática “Heart Of Hearts” encerra o álbum.
Luck é uma coleção de jóias pop de rara beleza, um painel revelando um artista inspirado, uma pílula recheada de boas sensações. Luck nos faz rir e chorar quando ninguém está olhando, quando queremos escutar somente a nós mesmos.

http://www.wiretreemusic.com/
http://www.myspace.com/wiretree

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

IPO VOLUME 12!

Acreditar na força da canção pop. Esse tem sido o trabalho de David Bash por mais de doze anos à frente do International Pop Overthrow. Que além de festival – contando com dezenas de shows em três países (EUA, Canadá e Inglaterra) e centenas de bandas todo ano – traz seu nome na coletânea mais representativa do pop underground mundial. Bandas novas e veteranas dividem espaço no CD triplo que sempre privilegia grupos de power pop. Este IPO 12 nos oferece 70 canções de 70 bandas diferentes de todo o planeta, um verdadeiro orgasmo múltiplo e em seqüência durante quase quatro horas de orgia pop.

“Miss I Don’t Understand You”, dos californianos do The Syrups, abre o CD1: não à toa talvez a mais empolgante canção power pop de 2009. O casal de Minneapolis Adam e Kristin Marshall e seu Humbugs vêm com a deliciosa e ganchuda “One More Day”. Os americanos do The Help Desk trazem pianos, mellotron, guitarras acústicas e a harmonizações vocais intricadas na justa homenagem “The Jellyfish Song”. O sueco Luke Jackson contribui com o apelo pop e emocional de “Come Tomorrow” e Bobby Cox e seu The Galaxies entregam a ultra-adesiva “Baby I Believe”.

O Vancouver Nights – que tem Todd Fancey, do Fancey, nas guitarras e sintetizadores – passeia pelo dream pop de batida eletrônica com “Autumn Witch”, enquanto o The Smile Eyes volta ao pop sessentista com “His Vision Of Her”. O Velvet Cadillacs injeta energia rocker com “Gotta Lotta Love To Give” e o novaiorquino Jeff Litman encerra o disco com a envolvente “Anna”, tirada de seu ótimo álbum de estreia.
Os japoneses do Mayflowers abrem o CD 2 com o power pop perfeito “Rubber Sole” para em seguida o australiano Michael Carpenter mostrar seu artesanato pop em “Can’t Go Back”.

Lisa Mychols entrega uma canção do seu próximo disco com a adorável “Hearts Beat In Stereo”, enquanto o power trio de Portland The Leftovers arrasa com a faiscante “Telephone Operator”, tirada da obra-prima punk-power-pop Eager To Please. Os espanhóis do Goodfellows apresentam a pérola pop de acento beatle “Behind Your Smile” e os americanos do 1.4.5. destilam seu punk rock primário com “Can’t Stop Movin’”. Da Grã-Bretanha os The Peppermint Apes trazem a cativante “No One Like Me” enquanto os Shamus Twins mostram seu divertido country pop “See About Me”.

O pop acústico e radifônico “You And I Can Take On The World” é a colaboração do The Dirty Royals e a macia “Blue”, com suas harmonias vocais angelicais e refrão memorável, é cortesia do The Strawberry Jam. De Roma o Soundserif traz seu pop orquestral à la Brian Wilson “Happy Since I Resigned”.
Abrindo o CD 3 reaparece o veterano KC Bowman, em dueto com Andrea Perry, na belíssima “Sorting Out The Rules”. E o garoto prodígio Evan Hillhouse também volta apresentando uma canção de seu segundo álbum Transition, a intensa “Save Yourself”.

A canadense Laurie Biagini comparece com seu surf rock sessentista “Another Old Crazy Lyin’ On The Beach Afternoon” e os suecos do Private Jets revelam a versão estendida da sensacional “Speak Up Speak Out”. Susan Hedges traz o bonito jingle-jangle de “City Song” e Stephen Lawrenson oferece “Ordinary”, outtake de seu álbum de 2009 Somewhere Else. A guitarra suja se contrapõe à melodia bubblegum do refrão em “Where There’s A Will There’s Way” canção do mestre Jeremy. A Rickenbaker brilha em “Rock ‘n Roll Girl”, canção do esperado próximo álbum dos suecos do The Tangerines.

Steve Sizemore Group impressiona com a canção, na melhor escola Jellysfish, “Beautiful Dust” enquanto o Romeo Flynns ataca com o rock’n’roll invocado “Gonna Feel Alright”. Blake Jones & The Trike Shop apresenta a estranha instrumental espacial-fantasmagórica, assombrada por teremins e vibrafones, “Astronauts In Trouble”. O quarteto power pop de New Jersey Meyerman presenteia com sua jóia “Judy’s Out Of Fashion” e os noruegueses do Peter & The Penguins fecham o CD 3 com o que poderia ser um clássico sessentista mas é de 2009: “The Walk”.

Em plena era digital, quando um CD vale menos que uma balinha, ver o lançamento de um CD triplo se repetindo, ano o após ano, só reforça a certeza que certas coisas só podem ser movidas pela paixão. Longa vida ao IPO, festival e coletânea. Porque eu também acredito na força de uma canção pop.

http://www.internationalpopoverthrow/
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quinta-feira, 17 de dezembro de 2009

"Eager To Please": THE LEFTOVERS!

Quantos anos de vida nos tomam as ansiedades da vida pós-moderna ou as pressões cotidianas do mundo de competições vorazes? O quanto a crueldade humana nos envenena dia após dia, disposta a nos tirar as esperanças do coração? O quanto precisamos lutar para nos manter de pé, mesmo quando açoitados pelo chicote inclemente do destino? Não há respostas exatas para estas perguntas, mas existem meios de amenizar seus efeitos. E alguns deles você vai encontrar nesse elixir do bem-estar e diversão chamado Eager To Please.

Quarto álbum do power trio de Portland – Kurt Baker, Andrew Rice, Adam Woronoff – que chega para repor os anos que o estresse te tirou, desenvenenar seu coração e curar as feridas dos açoites da vida. Vitaminados pela energia do punk rock e adoçados pelas melodias do power pop, os Leftovers animam o ambiente em canções ultra-energéticas, inspiradas e inspiradoras. Em Eager To Please os rapazes de Portland soam como um Elvis Costello – fase setentista – tocando composições dos Ramones. Ou um Queers experimentando Joe Jackson.

Beatles e Beach Boys também ecoam por todo o álbum, mas aqui os americanos tratam de dar um choque de modernidade nas sonoridades vindas dos anos 60 e 70. Distorção sem parcimônia, guitarras afiadas e bateria nervosa. Canções revigorantes de espírito jovem e feitas para lavar a alma, pelo menos durante seus quase 37 minutos de duração.
E a primeira saraivada de energia vital vem com “Can’t Stop” seguida pela batida envolvente de “Telephone Operator”, que traz o líder do Second Saturday, Wyatt Funderburk, na co-autoria da faixa.

A essa altura você já abriu espaço entre os móveis da sala para dançar, pular, celebrar a vida inundada agora pelas boas vibrações de uma verdadeira canção pop. E a festa continua na junvenil “Girlfriend”, onde Kurt Baker diz que não é feito para ter namorada – “porque é muito difícil manter meus olhos longe das outras garotas”. Melodia adesiva e refrão harmônico para a perfeição pop de “Get To Know You” (que conta com a participação de Kim Shattuck dos Muffs nos vocais). Aqui já está clara a contribuição do produtor Linus of Hollywood na sonoridade conseguida pelo Leftovers, já que o americano é mestre artesão em canções pop de sabor sessentista.

“Think About Her” ventila um ar clássico e entrega refrão memorável para o deleite dos power poppers ao redor do mundo. “I Want You Back” capricha no riff ganchudo e acordes viciantes, enquanto “Untouchable” vem reforçada pela guitarra de Coz Canler dos fundamentais Romantics. A cativante “Lost And Found” soa como se fosse Mr. Costello cantando um dos punk pops mais grudentos do ano e “Get Out Of My Head” realmente não vai sair da sua cabeça, nem adiantar tentar evitar.

Mais dois clássicos instantâneos se materializam com as incríveis “The Only One” e “Dance With Me” e a beleza melódica de “Make You Mine”, contagia os sentidos de imediato. E, representando o espírito de Eager To Please, nada melhor que encerrar o disco com a flamejante “Party Til We Die” dos Rubinoos, com as participações de Jon Rubin, do próprio Rubinoos, Kim Shattuck e Brett Anderson das The Donnas. Uma celebração depois da coleção de petardos pop, que estão aqui posicionados como artilharia contra as agruras e os desencontros da vida.

www.theleftoversband.com
www.myspace.com/theleftovers

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

"The Kavanaghs": THE KAVANAGHS!

Ali vão os quatro rapazes. Levando suas guitarras em cases pelas ruas frias de Liverpool. Quebram a esquina de Penny Lane assobiando Help! Param em frente ao portão vermelho de Strawberry Field para observar suas folhas secas voarem até o rio Mersey. Levadas pelas melodias dos fab four que ainda ecoam pelo ar da cidade. Tiago, Alejandro, Diego e Sebastian caminham para o sonho remodelado em realidade. Nove noites no The Cavern Club. Nove shows no palco sagrado: a vez dos Kavanaghs darem seu sopro revigorante na alma de um legado imortal.

Tiago Galindez, Alejandro Pin, Diego Vásquez e Sebastian Cairo viajaram milhares de quilômetros, de Rosário, Argentina até Liverpool. Como uma procissão à terra prometida para reverenciar seus mestres, seus guias, cujas obras se fizeram quando eles nem eram nascidos. E que a influência aparece cristalina na própria obra dos argentinos, em seu disco de estreia homônimo. The Kavanaghs, o álbum, parte da referência fundamental, os Beatles, pare encontrar, destacadamente, Raspberries e Badfinger e, Kinks ou Zombies, nas entrelinhas.

Cantando em inglês, para buscar um tom universal, os quatro de Rosário não se acanham ao querer revisitar sonoridades passadas. Canções bem talhadas têm vocação para a atemporalidade e isso eles sabem bem. “The Wrong Side Of The Way” abre o disco marcando a levada no baixo e bateria para depois chamar a guitarra para a festa e eletrificar o ambiente. Batida envolvente de piano e melodia adesiva para “Friday On My Mind” até a balada orquestral – com uma pequena e criativa incursão de um acordeon de tango – “English Town, English People”.

“You Know” vem bela e macia, desaguando no refrão emocional, feito para capturar corações sensíveis ou não. “The Simple Things” cativa na melodia pop, nas harmonizações vocais perfeitas e no incrível refrão que homenageia “I Wanna Be With You” dos Raspberries. Aliás, Eric Carmen e Jim Bonfanti, ex-membros do lendário grupo, elogiaram os Kavanaghs:“É um prazer ouvir suas canções!”. “It Seems That I’m Not Getting Things Quite Right” traz jogos de metais, piano, acordeons e flautas para adornar e reforçar o imenso poder pop da canção e sua sensacional melodia, transformando-a em clássico do power pop moderno.

“Cat In Town” dá pegada rocker ao pop sessetentista, na melhor escola beatle de canções invocadas, pero no mucho. “Goodbye Chris” fecha o álbum com ar de canção de baile romântico cinquentista/sessentista, para dançar de rosto colado, seja em Liverpool, Rosário ou no escurinho reservado do seu quarto.

http://www.thekavanaghs.com.ar/
www.myspace.com/thekavanaghs

segunda-feira, 7 de dezembro de 2009

Power Pop: The Early Years - NAZZ! (Parte II)

Por Daniel Arêas

Após os modestos resultados comerciais do seu álbum homônimo de estréia, o Nazz iniciou as gravações do segundo disco, que a princípio seria duplo, auto-produzido e se chamaria Fungo Bat. Tensões começaram a surgir na banda naquele período. Thom Mooney e Stewkey vetaram parte do material composto, gravado e cantado por Todd Rundgren, que demonstrava uma forte influência da cantora e compositora norte-americana Laura Nyro, distante do garage rock psicodélico que predominava no álbum anterior. Com parte de seu trabalho sendo por fim excluído do disco, Rundgren decidiu então deixar a banda; Van Osten já tinha saído pouco antes. O disco acabou sendo lançado em abril de 1969 como álbum simples e chamado de Nazz Nazz.

Apesar de não ter sido lançado como originalmente foi concebido, Nazz Nazz é o melhor disco da curta carreira da banda e supera o anterior em virtualmente todos os quesitos, da produção às composições (todas assinadas por Todd Rundgren). De cara, as três primeiras canções (“Forget All About It”, “Not Wrong Long” e “Rain Rider”) soam como um aperfeiçoamento da estética que o Nazz perseguia no álbum anterior: são inequivocamente pop, catchy, mas tocadas com energia, urgência. The Who é uma referência que permeia boa parte do álbum, mas ela é mais evidente do que nunca na excepcional “Under The Ice”. A devoção de Rundgren aos Beatles se evidencia nas belas baladas “Gonna Cry Today” e “Letters Don’t Count”, assim como na ótima “Hang On Paul”. Fecha o disco a magnífica “A Beautiful Song”, um épico com quase doze minutos de duração que reunia todas as facetas e influências da banda.

O material que ficou de fora de Nazz Nazz seria lançado em 1970 – com Stewkey pondo sua voz em quase todas as canções cantadas por Todd Rundgren que haviam sido deixadas de lado – sob o título de Nazz III, quando a banda já tinha acabado. Se é verdade que Nazz III não tinha a força dos discos anteriores (embora estivesse longe de ser ruim), fica claro que o disco deve ser analisado em conjunto com Nazz Nazz, como partes de um único projeto – como era a idéia inicial. Há vários bons momentos no disco, mas quase todos eles apontam para o soft rock que Todd Rundgren iria explorar nos primeiros discos de sua carreira solo. E ironicamente, a única faixa em que o lead vocal de Rundgren foi mantido é exatamente a melhor canção do disco: “You Are My Window”, uma comovente balada piano e voz, adornada com orquestrações.

Por que uma banda, aparentemente tão promissora, durou apenas dois anos? Bem, existem algumas possíveis explicações para isso. Uma delas é a de que seu mais talentoso membro tinha ambições artísticas que extrapolavam os limites musicais da banda. Mas o legado do Nazz não é diminuído por sua curta existência. Ouvir seus discos ajuda a compreender o que aconteceu a partir da década de 70, quando inúmeras bandas buscaram inspiração na British Invasion e reinterpretaram os sons daquela época. Quem quiser comprovar isso basta ouvir Big Star, Badfinger, Raspberries, Cheap Trick e tantas outras.

quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Power Pop: The Early Years - NAZZ! (Parte 1)

Por Daniel Arêas

Há um consenso em se afirmar que, apesar de ser um daqueles raros artistas que não têm qualquer receio em experimentar novas direções em suas carreiras, Todd Rundgren é figura de grande importância para o power pop. Álbuns clássicos como The Ballad Of Todd Rundgren e Something/Anything? são apenas algumas provas disso. O que nem todos sabem é que suas primeiras – e fundamentais - contribuições para o estilo haviam acontecido alguns anos antes, ainda na década de 60, como membro do quarteto americano Nazz.

Todd Rundgren (lead guitar) e Carson Van Osten (baixo) criaram o Nazz (que muitas vezes é equivocadamente chamado de The Nazz – o nome correto não possui o artigo definido) na Philadelphia em 1967 recrutando Thom Mooney para a bateria e Robert “Stewkey” Antoni para o vocal e teclados. A banda estreou nos palcos em julho daquele ano (abrindo para o The Doors) e alguns meses depois assinavam com John Kurland para este ser seu empresário. Só que logo ficou claro que as pretensões de Kurland para o Nazz eram bem diferentes das da própria banda.

Kurland optava por preservar a banda, evitando agendar shows crendo que com isso aumentaria o interesse e a curiosidade em torno dela. Ele também queria apresentar o Nazz como uma boy band pré-fabricada, direcionada para o público teen (a banda chegou a aparecer em algumas revistas da época, destinadas ao público adolescente). Foi divulgando essa imagem que Kurland conseguiu um contrato para a banda com a Screens Gems Columbia Records, que à época buscava um “novo Monkees”. Mas desde o início o Nazz demonstrou que tinha ambições muito diferentes das que lhe eram impostas.

Nazz, o primeiro disco, saiu em outubro de 1968, apoiado pelo single “Open My Eyes”/“Hello It’s Me”. Embora ambos fossem esplêndidos, tanto o álbum quanto o single não alcançaram sucesso comercial (“Hello It’s Me” anos depois seria regravada por Todd Rundgren e incluída em Something/Anything?, tornando-se um hit). Na verdade o single podia ser visto como uma síntese do disco. Se “Open My Eyes” expunha a faceta rocker, mais pesada da banda (junto com canções como “Back Of Your Mind”, “Wildwood Blues”, “When I Get My Plane”), “Hello It’s Me” - uma linda balada embelezada por cuidadosas harmonias vocais de três partes – era uma amostra do seu lado mais suave (a exemplo de canções como “See What You Can Be”, “Crowded” e “If That’s The Way You Feel”)

Fortemente calcado no brit-rock sessentista (as referências mais claras incluem The Who, The Beatles, The Move, Cream) mas com suas influências mescladas em canções de forte apelo pop, Nazz antecipava o power pop em alguns anos. É também o disco em que o talento e as habilidades de Todd Rundgren (como músico, compositor e produtor) começaram a aflorar. Das dez canções de Nazz, oito eram assinadas por ele, que fez ainda todos os arranjos e remixou o primeiro single da banda. Rundgren naturalmente assumia a condição de líder da banda; e isso em pouco tempo provocaria conflitos com os demais membros.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

"Fondness Makes The Heart Grow Distant": CHARIOTS OF TUNA!

Aqui continuamos nosso trabalho em desencavar os segredos e tesouros mais bem guardados da América. E não estamos falando em procurar nas altas montanhas de picos nevados ou desertos profundos onde só sobrevivem serpentes e bases aéreas secretas. Bandas também se escondem no centro mundo, mais precisamente no Brooklyn, Nova Iorque.

E é de lá que vem o Chariots Of Tuna. Há 10 anos Ben Morss trocou a capital da Califórnia, Sacramento, pela capital do mundo e resolveu trazer seu antigo grupo à vida novamente. Com a ajuda de Shawn Setaro, Rus Wimbish e Dan Davine, preparou este EP de três faixas, onde prevalece o clima de maciez indie pop. Algo entre Belle & Sebastian e Brian Wilson.

“War Hero” abre o EP com placidez acústica, delicados coros vocais e os acetinados falsetes de Morss. “Save Me Maryann” segue por paisagens oníricas e teclados sobrepondo texturas. A brianwilsoneana “Air” é levada por teclados vintage e a voz de Ben apenas cantando um coro, fazendo jus ao nome da faixa. Esperemos que, quando as novas canções do Chariots Of Tuna ganhem vida, não precisemos chamá-los mais de “segredo bem guardado do Brooklyn”.

www.myspace.com/chariotsoftuna

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

"Redemption # 39": MICHAEL CARPENTER!

Talento e paixão. Quando um sujeito tem a capacidade - e a benção divina – de unir as duas palavras e reverter o resultado a seu favor, não há quem segure. É o caso do australiano de Sidney Michael Carpenter. O cantor, compositor, multiinstrumentista, produtor, engenheiro de som, fez da música a sua vida e do pop a sua paixão. E Carpenter é do tipo que maneja com a mesma maestria as cordas da guitarra ou os botões de uma mesa de som; consegue surrar uma bateria com a potência inversamente proporcional a que aplica às doces harmonias vocais.

Não é de hoje que Michael Carpenter conhece os atalhos para se chegar à canção pop perfeita. Redemption # 39 é seu oitavo álbum solo – fora seus projetos com outras bandas e artistas – onde o músico escreveu todas as canções, tocou todos os instrumentos, gravou e produziu. Aqui o pop atemporal está a serviço da emoção, onde estórias de relacionamentos frustrados podem ser contadas em meio a belos acordes e climas reconfortantes.

A empolgante faixa de abertura “Can’t Go Back” tem aura de hit sessetista, mas ganha roupagem moderna na energia vital impressa por Carpenter. “Workin’ For A Livin’” é um country endiabrado com pegada blues, enquanto o piano guia a doce e bela “I’m Not Done With You” – pop perfeito para ondas do rádio, trilhas de filme ou seriados de TV. E piano, intervenções orquestrais e harmonizações vocais intricadas à la Jellyfish/ELO para a incrível “The King Of The Scene”.

Segue a balada “Don’t Let Me Down” e o cativante power pop “I Want Everything”; “Sinking” capricha nos falsetes do refrão e “‘Til The End Of Time” fecha o disco com sua base acústica e raiz norte-americana. Redemption # 39 reafirma Michael Carpenter como um dos grandes nomes do power pop atual, tanto dentro de um aquário de gravação como fora, controlando plugs, carrapetas e botões.

www.mcarp.com
www.myspace.com/michaelcarpenter

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

"How To Choose A Sweethart": PETER & THE PENGUINS!

Nem o mais arguto analista de cenários futuros, nem o mais charlatão futurologista do mercado poderiam prever. Muito menos as 350 bandas que ensaiavam em porões, tocavam em night clubs e participavam sem saber – em plena Liverpool de 1962 – da criação de um estilo que mudaria, definitivamente, os rumos do rock e do pop. Ninguém foi capaz de antever que, quase cinquenta anos depois, o merseybeat continuaria influenciando gerações. O beat sobrevivendo na era dos bits e bytes.

O rio Mersey nunca banhou a Noruega, mas a batida nascida em Liverpool continua contagiando os escandinavos. How To Choose A Sweeetheart é o primeiro álbum do quarteto da cidade de Moss e revela toda paixão de Eyvind Lindberg, Rune Johnsen, Stig Joraholmen e Fredrik Hagen pelas sonoridades sessentistas. A referência básica são as bandas da invasão britânica, mas as harmonias celestiais dos Beach Boys/Brian Wilson e o brilho inconfundível das Rickenbakers, imortalizado pelos Byrds, também contribuem para a feitura das jóias do Peter & The Penguins.

E a coleção de gemas se inicia com a belíssima “Barefoot”, com suas harmonizações vocais angelicais como prece de elevação. “Sweetheart” já abre com seu refrão incrivelmente colante e memorável, um monumental hit sessentista que, na verdade, nunca esteve lá. “The Walk” contagia no jogo esperto de vocais e decide a partida no refrão auto-adesivo. A energética beatleaneana, fase iê-iê-iê, “I Want You” emenda com a cruelmente divertida “There Goes Pete Best” – que diz ser o primeiro baterista dos Beatles “o bastardo mais azarado do mundo”.

A envolvente “She Took Me By Surprise” condensa Beatles, Beach Boys e Byrds em uma só e perfeita peça. Para o baile sixtie a adorável “If You Wanna Leave Me”. Já a faiscante “Here I Go Again” é cover dos Spongetones.“There’s No Living Here Without You” soa como um clássico eterno dos Beach Boys e “We Don’t Wanna Fall In Love”, levanta defunto com seu pop ultra-ganchudo. Enquanto “That Day Will Come” encanta power poppers com suas doces harmonias vocais e progressão de acordes viciantes.

A power-ballad “Give Me A Clue” encerra How To Choose A Sweetheart, provando que a força replicadora do sixtie pop transcende, pula de ano em ano, e vence o próprio tempo. E continua a avançar em terreno hostil de mundos virtuais e paisagens digitais – enquanto o juízo final das máquinas não vem.

www.myspace.com/peterthepenguins

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

"Midnight Matinee": BRASS BED!

Lafayette está encravada no coração da Louisiana francesa. Região onde surgiu a cajun music - tradicional estilo interiorano que utiliza acordeon, violino, banjo, bandolim e promove festas pra lá de animadas. A proximidade com o Texas absorveu elementos da country music vizinha, enriquecendo a experiência e tradição local. E em meio a esse cenário de raiz, três amigos resolveram trazer à tona suas experimentações sonoras.

Christiaan Mader, Jonny Campos e Peter DeHart juntaram suas referências sessentistas como Beatles e Brian Wilson; atuais como Flaming Lips, Wilco e o coletivo Elephant 6; com a herança da sua Louisiana natal. Harmonizaram tudo num caldeirão sônico, transformando-se numa verdadeira orquestra pop-psicodélica-country-espacial. O moderno e o tradicional, o atemporal e contemporâneo, realçando as diferenças ao mesmo tempo que se complementam

A bela “BBC Midnight Broadcast” abre o disco climatizada por pianos, pedal steel, acordeon, tubas e trumpetes. Já a energética “On The Road”, traz o kit tradicional de guitarra, bateria e baixo, com noises e metais adicionais aqui e acolá. A espacial “Intro To Tony” viaja em vibrafones e, “Olivia”, remete ao desleixo genial dos Flaming Lips. “So I Shrugged My Shoulders” vem com belas harmonias vocais e uma steel guitar chorosa com embalo à la Roy Orbinson.

A pequena e refinada instrumental “It Smarts” reflete o legado de Brian Wilson; e o piano voluntarioso de “James Fellows Jr.” cativa. A macia “Make Me Cry” é guiada por piano e bandolim, enquanto o experimento cósmico-noisy-psicodélcio “Killer Bees” encerra Midnight Matinee. Numa amostra concisa de que os garotos de Lafayette gostam de talhar a tradição musical com cortes angulosos, modernos e inusitados.

www.myspace.com/brassbed

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

"Give Me A Look": MARK & THE SPIES!

Não precisamos recorrer a filmes de ficção científica, laboratórios especializados em nanotecnologia ou sessões de hipnose regressiva. Nada de micro-chips implantados no córtex cerebral ou plugs ligados direto na nuca. Memórias do que não vivemos podem ser conseguidas numa simples imersão nas sonoridades dos holandeses do Mark & The Spies. O beat-garage do power trio nos carrega, flutuando, para o reino dourado da música sessentista, com um disco lançado em pleno 2009.

Give Me A Look – segundo álbum de Arjan Spies, Mark Wesseloo e Gerrit Sholten – reproduz com fidelidade a aura dos anos sessenta, tanto na gravação/produção, como na utilização de instrumentos vintage. Uma viagem espetacular onde o transporte é alimentado pela energia juvenil e primária do garage e a paisagem pintada nas cores adoráveis do beat. E a primeira parada é a elétrica e contagiante “Gimme Your Love”, seguida por “Ain’t Got No Time” e seu órgão retrô espetando os grudentos “no,no,nos” e “hey, hey, heys”.

A levada de balada sixtie envolve “You Got It” enquanto a crueza garageira de “We Fell In Love” e “Mers To Keep” eletrizam o ar. O órgão vintage e a melodia memorável cativam na sensacional “Please Think It Over” e, o refrão emocional da canção título, sobe para respirar em meio à profusão de teclados. Possível hit sessentista, com guitarra marcada, intervenções de sax, refrão harmônico e colante: “Won’t Work On Me”. Riff adesivo, melodia pop assobiável e coros celestiais para mais um hit em potencial em “It Don’t Matter Yo You”.

A rocker e quebrada “I Want More” antecede o invocado merseybeat “It’s True (I Need You) e, “Give Me A Look (reprise)”, encerra o álbum do Mark & The Spies. Que não é só um disco, mas um bilhete de ida para o mundo encantado do sixtie pop; uma passagem sonora capaz de, no fim do passeio, nos deixar com saudades de lugares onde nunca estivemos.

www.markandthespies.nl
www.myspace.com/markandthespies

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

"All Haunt's Sound": THE ALICE ROSE!

Você conseguiria ser sofisticado, sincero, lírico, direto, melancólico, reflexivo, animado e emotivo em apenas três minutos? Ser simples sem ser simplório ou ser complexo sem ser prolixo? O The Alice Rose consegue. Sem esforço e soando natural o quinteto de Austin, Texas, traz seu conjunto de gemas pop, trançadas com arranjos inteligentes e melodias adesivas. All Haunt’s Sound, segundo álbum dos americanos, se inspira em Beatles, mas com um corte Big Star; admira Squeeze, mas também pode se aproximar do Toad The Wet Sprocket.

A inspiração dos texanos respira forte o pop setentista, mas o carisma do vocalista, guitarrista e principal compositor JoDee Purkeypile dá alma e personalidade ao Alice Rose. Sua poesia dolorida e sincera soa verdade pura na emoção de sua doce voz. Sem perder a maciez e a aderência da verdadeira canção pop. Como na abertura “She Did Command”, de bateria quebrada, violões vívidos e teclados climatizando. A batida envolvente conduz a melodia auto-adesiva em “Waste Away” e, o clima acústico e reflexivo de “Agony Aunt”, é emoldurado com delicadeza pelos falsetes de Purkeypile.

“Maybe A Ride” mostra que o pop pode ter arranjos bem tramados e continuar simples e agradável. As cativantes e ganchudas “Slumbrella” e “It’s All Allowed” antecedem a leve e refrescante “Rags Of Autumn”. A balada orquestrada com jogos de cordas “I Know Your Ghost” e a bela “There’s No One In The Theme” mostram que o Alice Rose sabe adicionar com maestria a dose certa de refinamento ao seu pop. E que All Haunt’s Sound não precisa mais do que 38 minutos para provar que o pop poder ser eloqüente, relevante e emocional.

www.myspace.com/thealicerose

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

"More Help For Your Nerves": ROGER KLUG!

Prescrever discos para o tratamento de mazelas modernas deveria ser praxe. Mas se os médicos não o fazem, o “cientista pop” Roger Klug sugere Mais Ajuda Para Seus Nervos. O cantor-compositor-guitrarrista de Cincinnati, preparou 17 pílulas pop com princípios ativos familiares e outros bastante peculiares, em seu quarto álbum solo. Klug domina a receita básica da verdadeira canção pop, mas adiciona elementos experimentais com muita personalidade.

A liberdade de gravar em seu próprio estúdio, o Mental Giant, dá a margem que Klug precisa para manipular e direcionar a sua inquietude e criatividade musical. More Help For Your Nerves consegue ser extremamente pop, mesmo contendo passagens inusitadas e inesperadas. No quesito letras, Klug também mostra inteligência, sarcasmo e ironia, sem esquecer da métrica exigida por uma boa canção pop.

Pouco mais de um minuto para a apresentação de Roger Klug, na abertura “Tinnitus” – cuja sonoridade remete diretamente aos discos solo de Greg Pope. O pop poderoso de “Dump Me Hard” é afiado na ponta das guitarras de Klug e “An Artist In The Field” injeta passagens de progressivo, com solo de guitarra hard rock em meio a singelos ‘la-la-las’. A balada “Girl After My Own Heart” realça a capacidade do americano em tecer belas melodias, seguida pela faiscante e adesiva “About Time”.

Riff grandioso e intervenções de piano para a inspiradora “For The Kids” e batida envolvente para a esperta “The Day I Had My Brain Removed”. Baixo distorcido, guitarra invocada e melodia memorável para “Hi-Hat” e milhares de volts escapando para a energética “Bi-Curious”. “When Dreams Dry Up” chega macia e cheia de bossa para explodir raivosa, voltar macia e raivosa e macia. E o jogo vocal a capela, recheado de harmonias vocais beachboyneanas, é ironicamente titulado “My Life Is Sweet”.

O belo pop orquestral “Souls To Heaven” convida a viajar, enquanto “Bogeyman”, contagia na batida de piano e solo de violino. “Man’s Man” acelera e desacelera o andamento sem cerimônia e o épico pop, de oito minutos, “Your Diary”, fecha o álbum.
Você não precisa de receita médica, indicação farmacêutica ou recomendação profissional para comprar More Help Your Nerves: a prescrição de Mr. Roger Klug por si só já basta.

www.myspace.com/rogerklug
www.mentalgiant.com

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

"Glass Half Full" - DAVID BROOKINGS!

Hoje, quando David Brookings observa a inquietude curiosa de sua pequena filha, deve lembrar-se de si mesmo. Quando vinte anos atrás, ainda na cidade de Richmond, Virginia, explorava, tal qual um caçador de tesouros, a coleção de discos do pai. Aos nove anos não demorou para dar de cara com o disco que mudaria sua vida: Help!, dos Beatles. Era mais uma nova geração encantada pelo poder mágico da melodias instigantes dos fab four. Nesse mesmo ano, Brookings ganhou seu primeiro violão, e aí, não pararia de buscar inspiração nos mestres eternos do folk, pop e rock.

Na época, talvez, o jovem David não imaginasse que um dia pisaria o solo sagrado do Sun Studio – localizado em Memphis - onde gravaram lendas como Elvis Presley, Jerry Lee Lewis e Johnny Cash. E, apenas ‘pisar’, seria pouco mesmo: o cantor-compositor americano hoje grava seus discos nos estúdios Sun. Onde é guia turístico, de terça a sábado e pode, ao final dos passeios, vender seus discos aos turistas. A vida não é fácil e Brookings faz, ainda, shows acústicos em bares, noivados e casamentos. Enquanto isso, eu me pergunto: em que mundo David Brookings seria um popstar, escalando paradas de sucesso nos quatro cantos deste planeta?

Porque se você ouve seu quinto álbum, Glass Half Full, percebe a presença do toque divino no senso melódico do artista. A riqueza harmônica que não quer pra si elogios, quer a capacidade de levar prazer aos sentidos. A voz doce e sincera, que pode contar a verdade de um jovem que ainda não chegou aos trinta, e que mostra disposição e alegria pela responsabilidade de prover uma família. E o otimismo transparente aparece no título Glass Half Full (“Copo Meio Cheio”), disco, onde, no fim das contas, não importa qual é a sua ou a minha verdade, importa o bem que as ondas sonoras emitidas farão à alma de cada um.

E Brookings já abre o disco atacando o regulador de serotonina do seu cérebro, com o power pop perfeito da contagiante, adesiva e singela “Don’t Wake Me Up”. A melodia envolvente de “This Time It’s For Real” vem escoltada por violões e órgãos e “Love Goes Down The Drain” oferece levada voluntariosa e refrão memorável. “Hazel” capricha na trama melódica altamente ganchuda e, as guitarras de “We Never Ever Spoke Again”, mesclam música tradicional americana com pegada de pop moderno, desaguando num refrão sensacional.

A bela faixa título é acústica e instrumental e nos leva até a balada “Flashlight Love”, com sua inspiradora e divina melodia. O contagioso pop com cores country “Still Not Crazy Yet”, antecede à energética e afiada “Love And Death In Richmond”. Enquanto harmonizações vocais angelicais elevam a reflexiva “Getting Older”, encerrando Glass Half Full. Agora, o sorriso de Brookings, aberto na capa do disco, se transfere pra nós. E o pequeno fã de Beatles, da Richmond de 20 anos atrás, se pudesse vislumbrar o futuro, estaria sorrindo também. Pode apostar.

www.davidbrookings.net
www.myspace.com/davidbrookings

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

"A Million Year Picnic": THE TEMPONAUTS!

23 de maio, The Cavern Club, Liverpool. Sobre o lendário e acanhado palco um quarteto empunha suas armas sônicas, frente a uma audiência sedenta por melodias eletrificadas com energia sixtie. O ambiente pouco iluminado é colorido pelo brilho de uma Rickenbaker vermelha e outra azul, e o ar local é impregnado pela sonoridade clássica das lendas de seis (e doze) cordas. O ano é 2009, o quarteto sob os holofotes são os italianos do Temponauts, em uma apresentação do International Pop Overthrow.

Os Viajantes do Tempo são comandados por Stefano “Pibio” Silva e vêm da cidade de Piacenza mostrar sua paixão-obsessão pelos anos sessenta neste A Million Year Picnic. Transitam também pelo paisley underground oitentista e pelo brit pop noventista. Ou seja, Pibio quer alcançar ambiências que conduzam o pop pelos caminhos das melodias adesivas em busca sem fim do bem-estar.

Por isso a ensolarada “Toxic & Lazy” abre o disco com “pa-pa-paras” e “uh-uuhhs”, soando como uma banda brit pop envelhecida em tonéis sessentistas. A doce “Captain Frustration” conquista na cadência melódica e no frescor das harmonias vocais. “Atomic Fire Sister” exige beleza e potência das Rickenbakers, enquanto “(She’s An) Animal”, não esconde a influência dos britânicos dos Stone Roses.

Guitarras invocadas duelam coma a gaita nervosa na vigorosa “Operation Coroner”. Já a onírica e leve “The Down Bums” navega pelas plácidas águas do indie pop. Levada rock’n’roll para a alma pop de F**k You Everyone” e pegada jingle-jangle para “That’s How Strong My Love Is”. A crueza garageira de “Not In The Morning” contrasta com os “sha-la-las” e o brilho das Rickenbakers da contagiosa e macia “Come Back Saturday”. A psicodelia de “The Return Of Josie Wales” encerra o álbum e nos recoloca de volta, no aqui e agora. Só que cheios de novos ‘sha-la-las’ pra cantarolar.

www.myspace.com/temponauts
www.temponauts.blogspot.com

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

"Why Ramble?": SONS OF GREAT DANE!

O sentido da palavra evolução, em música, hoje tem mais haver com modernizar o que já foi feito do que a criação de sonoridades realmente novas. A não ser que se esteja disposto a explorar bizarrias experimentais, basicamente todas as combinações de acordes possíveis já foram testadas. As habilidades pessoais, bagagem musical, referências, influências e objetivos a alcançar, acabam por traçar as diferenças entras as bandas do pop e do rock atual.

E assim funciona o grupo de Kansas City, Missouri, Sons Of Great Dane: um verdadeiro colheitador temporal de influências. Brent Windler, Nolle Bond e Evan John, viajam até a década de 40 para buscar o country; enchem a mão quando passam pelo pop dos anos sessenta, respiram o mesmo ar setentista do Big Star e pincelam tudo com o que aprenderam do alt.country noventista. Why Ramble?, disco de estreia do grupo, mistura tudo em seu próprio caldeirão e apresenta 10 canções do estilo conhecido como americana.

O riff de guitarra da faixa de abertura “Early Train” já indica os ecos de música interiorana, mas, a voz de Windler e sua melodia pop, mostram doses aplicadas de modernidade. A levada western de “Always Wrong Always Right” também recebe suas pinceladas rock e “Bullet Left It’s Barrels Head” se aproxima mais firmemente das bases do power pop. A semi-acústica, guiada por voz e violão “Ballad Of Lou Barker”, antecede o country-rock energético “One Man (Wishful Thinking)”.

A densa “Question” chega acústica, envolve na melodia e explode em uma torrente de guitarras e microfonias finais. “Cut/Paste” mostra os cowboys tentando laçar a canção pop perfeita e a faixa de encerramento “Something”, revela que o rapazes do Missouri também têm vocação para a contundência rebelde do rock. E superam o desafio maior, que é de dar sabor próprio e harmônico à combinação de ingredientes colhidos em campos e estações tão diferentes.

www.myspace.com/sonsofgreatdane

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

"Failing In Biology": SIMON FELTON!

Funcionário público, músico profissional, psicólogo, dono de selo, líder de banda.... Quaisquer dessas categorizações serviriam para definir o britânico Simon Felton. Mas, hoje, estamos interessados no amante das melodias e harmonias, no caçador incansável da canção pop perfeita. O cantor-compositor de Weymouth - que também é líder do Garfields Birthday e dono da Pink Hedgehog Records – apresenta seu novo álbum solo, Failing In Biology, onde contou com ao auxílio luxuoso de Alan Strawbridge e do cult-hero californiano Anton Barbeau.

“Mister Magic Eyes” de cara já entrega as influências sessentistas de Felton, suas guitarras jingle-jangle – com o solo cortesia de Mr. Barbeau - e as melodias amigáveis e adesivas. As belas harmonizações vocais voam na sedutora “In The Attic” e o piano e os “la-la-las” ajudam a criar o macio ambiente de “(It’s Not) Rocket Science”. A batida bossa se funde à ambiência psicodélica dos sessenta em “Paisley Man”. Já a letra de “Me” faz referência aos Beachs Boys e ao Bee Gees, mas está mais para o pop britânico dos anos oitenta.

Em “The Latest Thing”, Felton acha o pop perfeito que buscava e ainda conta com a guitarra voluntariosa de Barbeau. Percussão e vibrafone para balada acústica “Goodbye”, enquanto a climática “Neptune’s Fountain” encerra o disco, com as texturas psicodélicas da guitarra de Barbeau e o sons de cítara da autoharp de Strawbridge. E, no fim, nem vamos perguntar detalhes sobre autoironia do título, Reprovado Em Biologia, que conjugada com a arte de capa – poderia dar o que falar. O diploma pop que nos interessa, Simon Felton conseguiu, em Failing In Biololgy, com louvor.

www.simonfelton.com
www.myspace.com/simonfelton

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

"So Long": THE WEBSTIRS!

Nove anos se passaram desde o último registro fonográfico dos Webstirs. Tempo que não foi suficiente para dissolver a parceria dos amigos de infância Preston Pisellini e Mark Winkler. Nem seu interesse em sonoridades carregadas de urgência rock, melodias pop e intervenções orquestrais, cristalizadas em seu novo álbum So Long. Com Charlie Short e Jordan Kozer completando a formação, o grupo de Chicago contou ainda com diversos amigos executando os jogos de metais e cordas.

A plácida e instrumental “Summer Fades” abre o disco à base de piano e metais, em clara homenagem a Brian Wilson e o seu Beach Boys – fixação que vem desde o álbum de estreia Smirk, que já fazia reverência ao clássico Smile. Em seguida, guitarras e trumpetes duelam na energética e apoteótica “Wesley Station”. O ataque continua com a empolgante e vitaminada “Somewhere To Start”, até chegar a melodia envolvente e pegada contundente da faixa-título.

O pop orquestral à la “Jellyfish encontra os Beatles”, com sua aura teatral, aparece em “Malaise”. Já os teclados, a levada vocal e a distorção de “Opparition Shrine”, soam muito próximos a Weezer e Rentals. O clima espacial - em batida de pop orquestral via teclados - de “Big Break”, remete diretamente à grandiosidade do ELO. E o rock’n’roll, com sotaque bluesy e refrão assobiável, aparece em “Sister Temptation”.

Guiada pelo piano, a radiofônica “Calendar Faces” antecede “What DoYou Believe”, mais um pop orquestrado com piano, metais e coros vocais cheios de ‘pa-pa-pas’. Outra bela e onírica instrumental presta tributo ao mestre Wilson, “Winter Song”, encerrando So Long. Álbum que nos mostra como uma parceria musical pode por anos sobreviver, tal qual uma inesquecível canção pop atemporal.

www.thewebstirs.com
www.myspace.com/thewebstirs

segunda-feira, 28 de setembro de 2009

"Pete": GREG POPE!

Você conhece Octoberville? Sabe quem vive ali e qual é a produção local? Ou qual o tipo de artesanato é feito na pequena vila? Onde fica Octoberville? O ar da Vila de Outubro está impregnado de notas virando acordes e se sobrepondo em harmonias. E quando a brisa sopra, leva pra longe versos e refrões, versos e refrões. Os botões de Octoberville sabem juntar com perfeição as peças de uma canção. Assim como o artesão que os maneja sabe harmonizar peso e leveza, energia e melodia.

Os sons de Octoberville vão atrás de você onde você estiver. Mesmo que seja a milhares de quilômetros de Franklin, Tenesse, nos Estado Unidos, onde Greg Pope tem seu próprio estúdio de gravação... o Octoberville. E de onde saiu o segundo melhor álbum do ano passado – segundo o Top 100 do Power Pop Station – Popmonster. Pope (que também produz filmes publicitários e animações) volta menos de um ano depois com este Pete, EP recheado com sete magníficas canções e, provavelmente, o melhor mini-CD de 2009.

Greg, como de costume, tocou todos os instrumentos e fez todas as vozes, no conforto da sua Vila de Outubro. E, com apenas dois discos lançados, já criou uma sonoridade própria, tanto na composição como na qualidade da gravação e produção. Uma música é o suficiente para você dizer: “é Greg Pope!”. A ambiência propositalmente lo-fi, as melodias com tintas sixties, uma aproximação do clima do power pop clássico dos anos setenta e a voz amigável, montam uma canção de Greg Pope.

Assim, “Fall Into Your Arms” abre o disco, arrastando o riff de guitarra junto ao baixo sinuoso, pratos de bateria explodindo e a melodia doce sendo cortejada sem cerimônia. A potência das guitarras empresta densidade à bela e emocional “Help Yourself”, enquanto a ultra-envolvente “How Do You Do It” vai do R&B bubblegum da Motown até quase esbarrar na disco setentista. Hit mundial inevitável se jogado nas ondas do rádio.

A doce e adorável “Roll With It” vem com seu refrão memorável aprendido com os mestres Beatles e Badfinger. Já a acústica “Let It Roll Off” encanta na sua batida macia e folky. “Sleeping Dogs” atesta mais uma vez a força e consistência do artesanato pop produzido por Pope. Enquanto “In My Head” traz o peso de um hard rock soturno para ser iluminado pelo pop harmônico e leve do refrão. Agora sabemos que Octoberville e Greg Pope estão, definitivamente, inscritos no mapa do power pop mundial.

www.myspace.com/edmundscrown
http://gregpope.net/
www.octoberville.blogspot.com

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Da Série Clássicos: "At Home With" CHERRY TWISTER!

Por Daniel Arêas

Bandas e artistas de enorme talento e que mereciam ser reverenciados, mas que são quase que ignorados (ou só obtém o reconhecimento devido muitos anos depois); canções que já nascem clássicas, que deveriam ser entoadas em coro por milhares de vozes – mas que são conhecidas apenas por poucos felizardos; discos que deveriam figurar em qualquer lista “best of” decente, seja do ano, da década ou de todos os tempos – mas nunca são lembrados. Salvo raras e honrosas exceções, este é o cruel paradoxo que o power pop enfrenta, desde seus primórdios. Qualquer um que acompanhe o universo power pop já se deparou com inúmeros discos que não podiam ter outro destino senão o sucesso, mas que se tornaram objeto de culto de um grupo reduzido de fãs. Um exemplo que se enquadra perfeitamente nessa descrição é At Home With Cherry Twister, dos americanos do Cherry Twister, o 5º. disco da Série Clássicos do Power Pop Station.

A figura central do Cherry Twister é o vocalista/guitarrista/compositor/produtor de Lancaster, Pennsylvania, Steve Ward, um daqueles artistas que parecem trazer em seu DNA a vocação e o talento para o pop. Em 1993 ele juntou-se ao baterista Steve Sackler para gravar, em seu estúdio caseiro, o ótimo álbum de estréia da banda, homônimo. Mas foi no segundo disco, At Home With Cherry Twister, lançado seis anos depois – quando então o guitarrista Michael Giblin se juntou a Ward e Sackler – que todo o potencial que o disco anterior prenunciava aflorou.

Se tentássemos definir At Home With Cherry Twister – que, como o nome indica, assim como o álbum de estréia foi gravado no home studio de Steve Ward – em uma única frase, poderia ser essa: uma coleção de canções que nos oferece todo o bem-estar e o prazer que o pop pode proporcionar. Alternando momentos suaves com outros de pegada mais rocker, o disco traz tudo de que precisamos para tornar nossos dias mais felizes: ganchos irresistíveis, melodias apaixonantes, refrões pegajosos e harmonias simplesmente sublimes.

Embora Steve Ward e cia. tenham buscado inspiração em vários dos gênios do pop e do power pop de todas as épocas, é evidente o seu fascínio pelos anos 60. Mas isso não faz o disco soar datado; muito pelo contrário, na realidade atesta sua atemporalidade (e, por tabela, a atemporalidade dos sons que lhe serviram de inspiração). É um deleite ouvi-lo hoje, como seria ouvi-lo há 40 anos atrás ou daqui a 40 anos.

O Cherry Twister mostra a que veio já na ótima faixa de abertura, “Don’t Forget Your Man”, uma mescla entre Beach Boys (uma de suas principais influências) e o peso das guitarras. Em seguida, um irresistível clima merseybeat paira sobre “Sparkle” - e a essa altura o ouvinte está definitivamente fisgado. O efeito wah-wah de guitarra pontua “Meteorite”, uma canção que traz à lembrança a doçura pop dos Rubinoos e que tem seu lindo refrão ainda mais embelezado com a sobreposição dos vocais. Palmas (merecidíssimas) ao fim da canção, e então surgem os primeiros acordes de “Charlotte B.”

Pode existir a canção pop perfeita? Se a resposta é sim, “Charlotte B.” não pode ser definida de outra forma. Ao a ouvirmos pela primeira vez, a sensação é de incredulidade: como não sabíamos que isso existia? Quase que diariamente o mainstream nos despeja toneladas de inexpressivos “next big things”; e Steve Ward escreveu uma canção que tem mais valor do que todas as “novidades” – somadas - que nos são empurradas goela abaixo. O ouvinte possivelmente não conseguirá tirar o dedo da tecla Repeat do CD-player, mas basta ouvir a canção uma única vez para que ela permaneça em sua memória por um bom tempo.

O brilho de “Charlotte B.” não ofusca, porém, as outras músicas do disco. O ritmo cadenciado e a jangly guitar conduzem “Leila” até desembocar no belo refrão, como nos melhores momentos do Big Star ou do Teenage Fanclub. Com suas celestiais harmonizações vocais, a suave e delicada “She’s gone”, nos remete tanto às baladas dos discos dos Beach Boys da fase pré-Pet Sounds quanto a Simon and Garfunkel. Em “Maryann” as guitarras recebem uma injeção de energia e a referência que surge é a do Fountains of Wayne.

“Kinda Like A Star” é uma das melhores canções jamais compostas por Norman Blake. Outro ponto alto do disco, “She’s in Love Again” contagia e conquista de imediato, soando como um legítimo hit-single, apenas esperando que o mundo a descubra. Depois da bela balada “Careful (Can’t Fall Again)” – outra com evidente influência do merseybeat britânico – Ward fecha o disco com chave de ouro: em “Why Won’t You Believe In Me” ele se aventura – com total sucesso – pelos caminhos do AM pop, com sua voz soando mais angelical do que nunca, pairando sobre uma camada de teclados e um delicado dedilhar de guitarra.

At Home With Cherry Twister já ganhou, com toda justiça, o respeito e a admiração da comunidade power pop, figurando na lista de John Borack dos 200 melhores discos de power pop da história. Mas isso não basta para um disco tão genial. Talvez ainda chegue o tempo em que discos como At Home With... estejam no topo das paradas, em que canções como “Charlotte B.” ou “She’s In Love Again” sejam as mais pedidas pelos ouvintes das rádios. Mas pensando sob uma perspectiva otimista, é possível identificar certos sinais de que talvez esse tempo não esteja tão distante assim.

A profusão de relançamentos, deluxe editions, versões remasterizadas de discos clássicos que vemos hoje pode ser interpretada como reflexo da assustadora mediocridade do atual cenário pop/rock mainstream. Será então que não é chegada a hora de começarmos a prestar atenção em todos estes maravilhosos artistas que passam quase que inteiramente despercebidos? Se o presente é desolador e o futuro parece sombrio, a salvação pode estar mais próxima do que imaginamos. E iniciar esse processo de descoberta com discos como At Home With Cherry Twister seria uma escolha bem próxima do ideal.

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

"Dead Air Radio": THE BEAT SEEKERS!

Kyle recebe os clientes nas mesas de espera do Millard Roadhouse. Benji é o chefe de Ryan K. em uma pizzaria da cidade. Timmy trabalha para uma empresa familiar de tintas e pinturas. Ryan G. ajuda pessoas com necessidades especiais na Madonna School. Keith escreve as canções. Juntos eles são os The Beat Seekers. Banda americana de Omaha, Nebraska, que nos apresenta seu álbum debut Dead Air Radio.

Aqui, Kyle, Benji, Ryan K, Timmy, Ryan G, liderados por Keith, trocam seus apetrechos do trabalho diário por guitarras, baixos, baterias e teclados. Passam de funcionários a guitarristas, de empregados a vocalistas... e, sintetizam a realidade da maioria das bandas power pop do mundo: pessoas comuns que são movidas pela paixão pela música. É claro que o “sonho rocker”, de um dia viver do som produzido pelas suas guitarras, e não das pizzas servidas no balcão, fazem parte do processo, mas não a parte principal.

E como o próprio nome do grupo diz, os rapazes de Omaha estão em busca do ritmo, da batida que traga energia e melodia em doses iguais. Soam como o encontro de um Green Day (menos furioso e mais interessado em diversão do que em política) com o pop clássico e sessentista dos Beatles – influências claras já na faixa de abertura “All Dolled Up” e na canção-título. “Passerby” é hit em potencial, com sua progressão de acordes ganchuda e bela cobertura de harmonias vocais.

“Don’t Blame Me” revela a habilidade de Keith Fertwagner para talhar envolventes canções pop, ou petardos rockers com pegada punk, como em “Personality Overload”. Guitarras faiscantes, batida nervosa e refrão memorável para “Lipstick Crush Delight”. Já a energética “Anything Won’t Do” e a cativante “Birthday Song”, trazem junto as doces melodias dos sixties. Enquanto pop e country são mesclados com perfeição, atingindo ares emocionais no refrão em “Save Tonight”.

A coleção incrível de pérolas pop dos Beat Seekers continua, com os impecáveis coros vocais e a melodia magistral da gema “A Single Sigh Of Relief”, que encontra, em seguida, a balada radiofônica “Better Days (revisited)”. A potente e melódica “Solutions M.I.A” antecede a faixa final, a macia e adorável “Life Long Grave”.

Assombroso o que recepcionistas, pizzaiolos e assistentes sociais podem fazer com uma guitarra nas mãos. Mas é que rockstars são sempre recepcionistas, pizzaiolos ou assistentes sociais... antes de serem rockstars. Que seja um prenúncio para os Beat Seekers, e, se não o for, de todas as formas Dead Air Radio já terá seu registro entre os grandes álbuns power pop de 2009.

www.myspace.com/thebeatseekers

segunda-feira, 14 de setembro de 2009

"Secret Powers And The Electric Family Choir": SECRET POWERS!

Inverter lógicas às vezes pode render bons frutos. Tomar o caminho inverso talvez soe inconseqüente aos outros, mas pode fazer todo o sentido pra você. Porque os objetivos, os sonhos e as fantasias são carregadas conosco onde quer que estejamos. Não sabemos os motivos, mas foi isso que o músico Ryan “Schmedly” Maynes fez: deixou Los Angeles – onde liderava a banda Arlo – e foi para o interior do Estados Unidos. Mudou-se para a pequena cidade de Missoula, Montana, planejando viver como produtor, engenheiro de som e músico. Mas não é Los Angeles a meca da indústria musical?

Pois foi invertendo a lógica e dando ouvidos apenas a seus desejos e inspiração, que Schmed idealizou o incrível Secret Powers. Com seu próprio estúdio, montado no quintal, e músicos de bandas locais, o americano gravou dois álbuns: Explorers Of The Polar Eclipse e, agora, este Secret Powers And The Electric Family Choir. E gravar discos no quintal de uma cidade interiorana só ressalta o talento de Schmed, tanto na composição, como nos arranjos e produção.

E, se foi pra arriscar, Ryan Schmedly não veio pra brincar: suas canções gostam dos arranjos intrincados do Jellyfish e experimentam as viagens orquestrais do ELO, oferecidos com o sabor pop e doce dos Beatles. Como a grandiosa “Orange Trees”, que poderia ser uma colaboração Jeff Lynne/Beatles, com passagens por ambiências elétricas, reflexivas e espaciais. O banjo e o acordeão, na adorável “Maryanne”, dão o toque de interior e a batida do piano animada desemboca no ritmo circense até o emocional grand finale.

“By The Sea” coloca ondas do mar em andamento de valsa e a força do pop orquestral emociona em “Heavy”. “Lazy Men” vem envolta por harmonizações vocais, metais e grand pianos: uma gema pop orquestrada em menos de três minutos. Violinos e violões abrem a balada atemporal “Misery”, que recebe notas de piano e refrão memorável. “Ghost Town” é country pop cativante, com refrão para arenas cantarem junto; e a beleza magistral das harmonizações vocais desce em “Treat Your Mother Nice”, como se recebidas do próprio mestre Brian Wilson.

A perfeição pop continua no que poderia ser um clássico setentista: “Something About Girl”. Vocal rascante, harpa onírica e coros vocais flutuando em “One Less Star”; e coloração psicodélica para “You Know It’s Time”. E o rock, com pegada de blues e coros de hino hippie, “Both Sides Of The Candle”, encerra Secret Powers And The Electric Family Choir. O álbum fruto do desejo improvável e da genialidade de Ryan “Schmedly” Maynes, cujos poderes secretos devem ser revelados ao mundo. Já.

www.myspace.com/secretpowersmt
http://squaretiremusic.com/band.php?b=sp

quinta-feira, 10 de setembro de 2009

"Lift You Up": LEWIS WILSON!

Não é novidade qual é o maior sonho de consumo dos escoceses: o sol da Califórnia. E suas praias, com suas garotas e seus biquínis, e a areia quente, onde quebram as ondas perfeitas. Energia vital que emanou as sonoridades da Califa dourada, dos Beach Boys, de Brian Wilson, dos Byrds e atravessou o Atlântico atingindo em cheio a pequena ilha britânica. Sai geração entra geração, e os filhos da Escócia continuam procurando abrigo no calor revigorante das singelas canções pop, para se proteger do frio cortante do seu país.

E de inverno a inverno, criou-se uma forte tradição pop local. Que agora chega ao jovem Lewis Wilson, que nos apresenta seu álbum debut Lift You Up, título - “Botar Você Pra Cima” – que promete o paraíso pop em plena Escócia congelante. As influências do escocês também passam tanto pelo folk rock de Neil Young e CSN&Y como pelos cowboys espirituais da nova geração The Thrills e Beachwood Sparks.

Mas as referências mais cristalinas vêm de conterrâneos: a incrível faixa de abertura “Holiday In The Sun”, com seus vocais macios, pegada energética e refrão memorável, remete aos heróis locais do Teenage Fanclub. Enquanto o pop perfeito “It’s Amazing” soa muito próximo a Daniel Wylie. Na power ballad “Golden Country” um órgão vintage dá o clima e Wilson não se exime de mostrar emoção. A bela “To All The People” ensina como se produz o melhor pop americano com sotaque genuinamente escocês.

“Stay Longer” traz o verão californiano para Glasgow, junto com as harmonizações vocais celestiais de “Open Your Mind”. Maciez pop para a melodia cativante de “Super Place”, seguida da poderosa e emocional canção-título, que poderia figurar entre as jóias do Cosmic Rough Riders/Daniel Wylie. Lift You Up mostra que a Escócia acaba de revelar mais um grande compositor pop para seu panteão. E que, de canção em canção, às vezes, o inverno pode virar verão.

www.myspace.com/lewilson2

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

"On The Up Side": THE HUMBUGS!

Adam e Kristin não dividem apenas o mesmo sobrenome Marshall. Não são apenas um casal vivendo sobre o mesmo teto ou discutindo como pagar as contas no fim do mês. Eles são uma dupla que persegue junta a mesma paixão: a canção pop perfeita. Criaram o Humbugs provavelmente para se divertirem e consolidar a sua cumplicidade pop: que tal uma banda para entreter os pedestres que passam pelo mercado rural de Durango, no Colorado?

Hoje, o grupo de Minneapolis, chega ao terceiro álbum como um quinteto, e com uma respeitada trajetória no mundo do power pop. On The Up Side mostra como soaria um casamento entre Neil Finn e Aimee Man – já que Adam e Kristin alternam os vocais principais – mas com suas veias sessentistas saltadas. Porque se esmeram nas harmonias vocais, se preocupam que as melodias sejam mais memoráveis o quanto possível.

Por isso a faixa de abertura, conduzida pela voz amigável de Adam, “One More Day”, carrega o ambiente de clima emocional, sem perder o foco pop da canção e, ainda, enchendo de texturas as harmonias. Kristin assume o vocal na contagiante, de belo refrão, “Lies Behind The Glass”. Enquanto a perfeição pop de “Employee Of The Month” e “Calico Eyes” iluminam e adoçam o dia.

A belíssima power-ballad “As Long As I Matter” emociona e cristaliza a extrema sensibilidade pop de Kristin nos vocais e de Adam na composição de uma canção. “Walking Home to You” oferece leveza revigorante e “Fireflies” traz energia da new wave oitentista na melhor escola Blondie. A agradável meia-balada “Take A Chance” e a energética “Mic Stand”, encerram On The Up Side, completando sua coleção admirável de alianças, digo, jóias pop.

http://www.thehumbugs.com/
www.myspace.com/thehumbugs

segunda-feira, 31 de agosto de 2009

"Vegas With Randolph": VEGAS WITH RANDOLPH!

A história conta que a vida adulta trata de separar os mais fiéis amigos de escola. Cada um segue seu rumo buscando objetivos e aspirações. Mas existem casos em que uma paixão em comum pode manter amizades por longos anos. É o caso dos americanos John Ratts e Eric Kern, que se mantêm conectados pelo amor a música. Parceiros de longa data, Ratts e Kern passaram por variadas bandas em Washington DC e agora juntam forças – e composições - no Vegas With Randolph.

Com a participação de diversos amigos, Vegas With Randolph, o álbum, traduz o interesse dos parceiros pelo pop e rock atemporais. A começar pela faixa de abertura “Be The One”, onde um piano voluntarioso disputa espaço coma a bateria vigorosa e guitarras energéticas. “Happy” não esconde a tradição melódica da música americana, até explodir no poderoso refrão. “The Same” abusa dos teclados em clima emocional e vai crescendo para desaguar na pegada de guitarras rascantes.

A acústica “Versailles” envolve na batida do violão, melodia pop e gaita onipresente, nos seus quase sete minutos de duração. “Arizona Blue” é bela balada guiada pelo piano e aeradas harmonias vocais. E a macia e doce, com toques country, “Buses Trains & Planes” foi indicada a concorrer a “Canção do Ano” pela Washington Area Music Association. “Longplay” é uma suíte com seis canções, unidas como uma colagem pop, que apresenta algumas pérolas como “All The While”, “Dreams Of The Night” e “Your Own Song”. Que a parceria Ratts-Kern dure muitos álbuns mais.

www.myspace.com/vegaswithrandolph

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

"Unpublished": TONY COX!

Clássico, clássico, clássico! O sentido de pop clássico e atemporal está aqui: canções que visitam o pop sessentista, passam pelo soft rock setentista e esbarram em sonoridades oitentistas. A sensação, ao ir mudando de faixa em Unpublished, é a de se estar girando dial por estações de sucessos mundiais da história do pop. E, enquanto tentamos lembrar onde ouvimos estes hits, o título trata de lembrarmos que são músicas não-publicadas anteriormente (apesar de, na verdade, seis faixas de Unpublished já terem figurado, em 2008, no álbum de estreia da banda de Cox, o The Offbeat).

E a intenção do compositor inglês com Unpublished, é despertar o interesse de produtores, artistas e gravadoras para suas pérolas pop. Uma espécie de portfólio sonoro que os power poppers deram um jeito de atravessar e desfrutar para seu bel-prazer. Contando com Nigel Clark nos vocais – frontman da banda britânica Dodgy - e Darren Finlan na bateria, Cox escolheu suas 11 canções preferidas onde, prova-se, não economizou talento no artesanato da composição pop.

“Sweet Elaine” abre o disco já dando a impressão de que alguma vez na vida já repetimos aquele refrão – com seus toques de soft rock dos setenta e pop orquestral. “Feel Real Love” vem marcando forte no baixo, pontuando nos metais e caprichando nas harmonizações vocais. Os sintetizadores de “Life Is Hardcore” remetem às bases do pop dos anos oitenta, enquanto “Jamelia” se espalha por completo pela atmosfera do sixtie pop britânico.

A bela semi-acústica “Fallen” traz mais uma melodia colante em clima macio e ingênuo dos sessenta. “Chills” e “Say The World” poderiam estar por aí, nas ondas do rádio, há anos com suas melodias envolventes e refrões memoráveis – dois clássicos instantâneos. “Show Me Your Love” já alcança o pop contemporâneo e “Can’t Leave Too Soon” volta a atestar a capacidade Tony Cox em criar canções de forte apelo pop. Resta saber o quanto o mundo estará interessado na incrível coleção de clássicos em potencial de Unpublished. Nós estamos.

www.coxymusic.com
www.myspace.com/coxysongs

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

"Skoober EP": SKOOBER!

Bandas com garotas nos vocais vêm aumentando a cada dia no mundo do power pop. Mas ainda não são nada comuns. E dependendo da proposta do grupo - e do timbre vocal da vocalista - as moças funcionam melhor que os marmanjos. E, pelo menos no Skoober, a voz feminina de Tawni Bates, deu brilho ao trabalho instrumental do faz-tudo Andy Weaver.

A dupla de Elmira, estado de Nova Iorque, veio ao mundo com o disco de estreia Say!, de 2008, e retorna aos holofotes com este EP homônimo de seis faixas. Que soa como uma cruza de Blondie com Rooney ou onde a new wave encontra o power pop. Ou, de acordo com a bagagem musical do ouvinte, pode soar como um pop rock invocado.

E bota invocado nisso quando as guitarras de Weaver e a voz potente de Bates anunciam “Get It Out”, com sua melodia adesiva e energia faiscante. Enquanto “Sucks To Be You” vem envolvendo na levada até Tawni convidar ao pop grudento do refrão. A poderosa “Don’t Be The One To Leave” dá potência de banda ao duo, com bateria voluntariosa, guitarras espetando e um órgão intervindo perfeito em momentos-chave.

“On And On” apaga as luzes, veste Tawni de diva e traz clima retrô com batida de valsa pop. Já “Parts Of History” tem algo de Rentals na sonoridade, e faz o casamento perfeito das guitarras cortantes de Weaver com os belos falsetes de Tawni no refrão. Fecha o EP a canção acústica com batida bossa “One And Two”, revelando a versatilidade vocal de Bates. Que este EP do Skoober sirva de incentivo para vermos, em breve, mais saias à frente de bandas power pop.

www.skoober.net
www.myspace.com/skoober

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

"Man Overboard": J.P. CREGAN!

Os bons tempos estão de volta! Quer dizer, quando se trata de power pop, eles estão sempre por aí... mas existe uma época que, talvez por estar mais próxima, tem sido menos revisitada por bandas e artistas da nova geração. É a fase do power pop clássico, que vai de fins dos anos 70 até meados dos 80, onde tínhamos vigentes os reinados de Elvis Costello, Nick Lowe e Marshall Crenshaw, para citar os mais conhecidos. E são essas sonoridades que ouvimos, modernizadas, em Man Overboard, primeiro álbum solo do guitarrista do Parklane Twin J.P. Cregan.

O americano de Los Angeles - que também é colunista da ESPN, onde escreve sobre basquete – carrega no seu visual uma aura quase subliminar que remete a songwriters clássicos e geniais: os óculos de grau e armação quadrada de Cregan nos fazem lembrar de Buddy Holly e Elvis Costello. E a influência deste último é que salta mais aos ouvidos, principalmente no timbre vocal e modo de cantar – se você considerar o Costello de 30 anos atrás.

“Carolyn (The Pleadge Drive) abre Man Overboard na batida animada de um pub rock de bases fincadas em ambiências cinquenstistas. Piano pontuando, steel guitar miando no fundo, melodia doce e macia para “Count To Three”. “Barbara Is Strange” chega espreitando, harmoniza, com beleza, pontuais “ahahahs” depois capricha no andamento envolvente. “Atmosphere” tem algo de raiz e algo de pop sessentista e um pouco de charleston no refrão.

“Miss Highland Park” traz órgão, palminhas e batidas de violão encorpando a sonoridade, enquanto as guitarras aparecem em “Shouldn’t Take It So Hard”, sem tirar a maciez da canção. A climática “Winter Of ‘85” faz flutuar com seus coros vocais de beleza rara e de aura espiritual. A canção–título é uma balada acústica assombrada por notas de piano que sobem a escala musical em perfeita sincronia com o andamento da canção. A energética “The Underdog” fecha o álbum nos mostrando que as lentes de J.P Cregan não refletem apenas heróis do passado, mas enxergam onde se escondem todas as senhas do pop atemporal.

www.myspace.com/jpcregan

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

"Roommate": TOTOS!

Quando o astro-rei brilha na Terra do Sol Nascente, nunca brilha ao mesmo tempo aqui. Um desencontro que sempre foi e sempre será. Mas o homem é mestre em subverter ordens naturais – mesmo que muitas vezes pela sua capacidade de imaginação e fantasia. Então, não há problema em que o sol que ilumina o Japão passe a nos banhar aqui, como se a Terra fosse plana como uma folha de papel. Mesmo que esse fenômeno sobrenatural dure apenas os 42 minutos de Roommate.

Projeto solo do baixista do Brokespace Koyo Fukamizu, o Totos reúne membros de outros grupos japoneses e nos oferece um dos melhores álbuns de power pop da história do país asiático. Lançado em 2008 – e criminosamente fora da lista Top 100 Álbuns do Power Pop Station – Roommate é o primeiro álbum do grupo e vem para confirmar a aptidão japonesa na criação de melodias bubblegum de contágio imediato.

Não é a toa que o power pop tem certa popularidade no Japão: as belas melodias são ali apreciadas como iguaria fina e já se tornaram ingrediente obrigatório da receita de qualquer bom pop japonês. E quando a sensibilidade oriental cruza com a objetividade ocidental; ou a pureza melódica do lado de lá encontra com a energia instrumental do lado de cá, só podia dar nisso: o power pop perfeito.

“1,2,3” abre a contagem das 15 faixas de Roommate, com uma guitarra guinchando e a melodia perfeita, à la Teenage Fanclub, convidando todo mundo a contar (e cantar) junto – em um inglês pra lá de nipônico. Em “From Now” não vai interessar se é dia ou noite, pois os ganchos melódicos, as harmonizações vocais e as guitarras afiadas vão te trazer o sol onde você estiver. E te envolver numa ambiência “eterna enquanto durar” de bem-estar e diversão.

O vocal angelical da guitarrista U-co Sekido embeleza e confere ingenuidade à adorável “Film”. De mansinho e doce chega “Tears No Reply”, para em seguida explodir no refrão ultracolante e emocional, daqueles com progressões de acordes para deixar qualquer power popper sem chances de defesa.. Toques de bateria eletrônica e baixo forte para “Natural Water” e batida e metais cativantes em “Sweet Dream”. U-co volta com voz de gueixa – cantando em japonês – na macia “Good Night”.

Em “What Did You Say” Koyo mistura palavras na língua nativa e em inglês. O que não importa muito porque o refrão é só sensacional – tipo Teenage Fanclub era Bandwagonesque - e você vai cantar, querendo ou não. “For You” é uma vinheta de 35 segundos com um baixo que faz até pedra se mexer. “P.S I Love You” é um pop experimental eletrônico no melhor estilo do conterrâneo Cornelius. “You Disappointed Me” é composição de Duglas T. Stewart, do BMX Bandits, que também fez a arte gráfica do CD.

Um ideograma representa o título da faixa doze, que soa como uma bela canção de ninar japinhas. Inglês e japonês para a canção que é praticamente um refrão memorável “Thank You For Goodbye”. A bonita balada “Ticket” confirma Koyo como um artesão das melodias colantes e “Set Me Free” encerra com um dueto Koyo-Uco em clima grandioso com orquestração sem quebrar o ambiente de romance.

Roommate deveria ser prescrito como remédio para casos de depressão leve, aguda ou crônica. Seus princípios ativos provavelmente também fariam bem a quem sofre do coração. Mas, o que intrigaria cientistas a valer, é como consegue levar o sol a pontos opostos do planeta. Ao mesmo tempo.

www.totos.jp
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quinta-feira, 13 de agosto de 2009

"Social Crutch": DIPSOMANIACS!

Os Dipsomaniacs estão nessa por diversão. Mas também gostam de dizer suas verdades. Ironias que podem alfinetar mais que mil palavrões: a começar pela arte de capa – que mostra um garçon servindo drinks sob o título do álbum Social Crutch, (“Muleta Social”), em clara referência ao álcool; e o próprio nome do grupo - que quer dizer algo como “alcoólatras”. Mas é claro que ninguém está aqui pelas gracinhas ou espetadas temáticas do Dipsomaniacs. Os veteranos de New Jersey conhecem como poucos a receita de unir a crueza do garage rock com a sensibilidade melódica do pop.

Seu líder, Mick Chorba, não esconde a admiração por Replacements e The Who, mas deixa claro em suas canções que gosta das coisas do seu jeito. Chorba - que espraia sua criatividade também no The Successful Failures – domina e doma a eletricidade de sua guitarra do mesmo jeito que amacia e embeleza as tramas das suas melodias. Como na sintomática faixa de abertura “Together We Can Rule The World”, que pela força de seu poder pop envolvente realmente poderia conquistar o mundo nos seus dois minutos e dezesseis segundos de duração.

Apesar do título (“Largue Sua Guitarra”), os instrumentos das seis cordas rugem forte em “Drop Your Guitar” – lembrando que o Cheap Trick também é uma influência. A batida em ritmo quase circense de “Blame It On The Gin” não impede o refrão marcante e uma bela ponte melódica no meio da canção “Not Waiting Around” é pontuada por um órgão sobre camadas de guitarras e harmonizações vocais bem cuidadas. Já “Loretta After All” é uma power-ballad e “Wake Up Sue” um rock’n’roll envenenado de refrão adesivo.

“Kids On Base” fala dos garotos que ficam nas bases militares americanas mundo afora “aguardando as ordens do seu comando”. Enquanto a pegada cativante e vitaminada de “Oh Jose” contrasta com a maciez não-ingênua de “Wait And See”. E “Halo Around You” fecha Social Crutch, confirmando que, na verdade, os Dipsomaniacs são viciados – e viciantes – é na arte de eletrificar uma canção pop, nada a ver com copos cheios de gelo, tônica e gim.

www.dipsomaniacs.net
www.myspace.com/dipsomaniacs

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

"Surrender To Love": THE TIMETRAVELLERS!

Quando Öyvind Ander lançou seu segundo álbum solo, Heaven Is, dissemos que o mundo precisava de pessoas que ainda acreditassem nos bons sentimentos humanos. E que nós precisávamos dos bons fluídos transmitidos pelas canções do cantor-compositor sueco. Ouvindo nossas preces, menos de um ano depois, Ander retorna, agora sob o nome de sua banda, os Timetravellers, e se mostra disposto a continuar seu trabalho de fé e paixão, pela música pop e pela humanidade – ambas carentes de boas intenções.

Surrender To Love repete três belísimas canções de Heaven Is, só que desta vez trazendo Cristina Sipi nos vocais: “Born To Be Free”, “Heaven Is” e “Song For the Earth”. A configuração de banda, para o novo disco de Ander, trouxe mais consistência instrumental e pegada à sonoridade. Mas, de forma alguma, se sobrepõe à intenção primordial das canções do artista, que são as mensagens positivas embaladas por belas melodias a serviço do bem-estar.

O álbum dos Timetravellers soa como uma continuação natural do anterior de Öyvind Ander, como um novo capítulo de um mesmo livro e onde alguns flashbacks ajudam a relembrar acontecimentos passados. A faixa-título abre o disco com base acústica pontuando dedilhados ao violão num clima que passa entre o cancioneiro de James Taylor e o soft rock setentista. E as harmonias celestiais de sempre.

Sob a pergunta existencial que todos nós nos fazemos, vem a macia “Why Are We Here”; já as guitarras aparecem mais ferozes na envolvente “Why” e na contundente “The Secret”. “Do What You Want” é tudo o que queremos: progressão de acordes viciante, melodias adesivas e harmonias vocais angelicais. “We All Need Our Friends” oferece refrão auto-adesivo e a beleza de “Inner Peace” realça que paz interior é o que precisamos. E é exatamente para isso que Surrender To Love, Öyvind Ander e os Timetravellers estão entre nós.

www.myspace.com/thetimetravellers
www.myspace.com/timetravellingsongs
www.myspace.com/oyvindander

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

"In The Late Bright": TOMMY KEENE!

A imagem distorcida pelo calor exalado pelo asfalto quente vai sendo revelada aos poucos. A silhueta de alguém que se aproxima - e parece carregar um case de guitarra nas mãos – não transparece cansaço nem desânimo. Traços marcados pela experiência e perseverança começam a aparecer no rosto que se acerca. São mais de 25 anos de carreira, cruzando o Estados Unidos de ponta-a-ponta sem que o grande público realmente reconheça aquelas feições. Mas nós, power poppers, sabemos que quem vem lá é Tommy Keene.

O americano, que influenciou centenas de novas bandas nas últimas duas décadas e meia, com sua voz inconfundível e sua guitarra sempre brilhante e cheia de ganchos melódicos, volta com seu oitavo álbum In The Late Bright. E, tanto tempo depois, Keene continua sendo considerado pela crítica musical como um nome do power pop a se respeitar. Porque consegue forjar canções pop simples, com pegada forte e sempre com algo a dizer com mais profundidade e reflexão.

In The Late Bright foi produzido e gravado por Tommy em sua casa, realçando a força das composições, em vez de valorizar efeitos e truques de estúdio. Assim “Late Bright” abre o disco com o som de um Baldwin Fun Machine (órgão sessentista) emergindo para logo dar espaço à batida marcante e o brilho da guitarra de Keene. “A Secret Life Of Stories” é contagiante no ritmo e na melodia, sem ser exultante – até as canções mais up de Tommy trazem uma carga reflexiva que se projeta claramente na sonoridade.

“Save This Harmony” dedilha guitarras com maciez e leva a plácidas paisagens. Já “Tomorrow Gone Tonight” e “Goodbye Jane” chegam envolventes com suas melodias luminosas para, em seguida, desaguar na power-ballad “Nighttime Crime Scene”. A primeira faixa instrumental da carreira discográfica de Keene, “Elevated”, é uma assustadora e hipnótica sinfonia de guitarras. “Hide Your Eyes” encerra In The Late Bright com seu belo refrão, enquanto a silhueta de Tommy Keene já vai longe, rumo aos próximos vinte e cinco anos.

www.tommykeene.com
www.myspace.com/tommykeeneband

segunda-feira, 3 de agosto de 2009

"Desayuno de Campeones": RUBIN Y LOS SUBTITULADOS!

Sempre estamos disponíveis para admirar os feitos de nossos heróis do passado. E sempre paramos para medir o grau de frustração por não termos feito parte de determinadas épocas, que consideramos, utopicamente, mais afeitas às nossas convicções ou fantasias. Mas a verdade é que estamos aqui e agora dividindo nossa realidade, nosso tempo e nosso planeta com nossos contemporâneos, que também, muitas vezes, têm os mesmos heróis de outros tempos. E que trazem para o presente as influências modernizadas de anos que já se foram.

Então, agora, também estaremos orgulhosos de nossos companheiros de viagem, aqueles que podem sentir o calor do mesmo sol ou uivar para a luz prata da mesma lua. Assim chegamos ao cantor compositor argentino de Buenos Aires – nosso vizinho, por supuesto – Sebastian Rubin, ex-líder do sensacional Grand Prix e que chega ao segundo álbum solo com este Desayuno de Campeones. Carregando em si uma mar de expectativas por ter a árdua tarefa de ser o sucessor do estupendo EsperandoEl Fin Del Mundo.

Mas Rubin não é do tipo que se acanha frente às próprias vitórias passadas e segue disposto a adicionar elementos e descobertas ao seu imenso talento. Contando para isso com os Subtitulados (Manuloop, Juampi Mandelman, Martín López e Cristian Basualdo) que fazem a base para que possa destilar suas inspiradas canções pop – onde Beatles, Elvis Costello e Teenage Fanclub são referências cristalinas. Sebastian, como nós, também admira os feitos de seus heróis do passado e titulou seu disco como o nome de um livro de Kurt Vonnegut (escritor americano morto em 2007).

Desayuno de Campeones (Café da Manhã dos Campeões) segue alinhavando as características conflitantes e complementares da música de Rubin: uma canção de melodia doce pode cantar a frustração e o desamor; uma balada pode ser ácida e carregada de ironia; ou um petardo rocker pode ser uma carta macia de amor. De todas as formas, os temas se submetem à melodia, que é o ponto fundamental na composição do argentino. Se deixar invadir pela inspiração melódica para então saber o que aquela canção vai ser capaz de contar.

E assim abre o disco “Quien Debo Ser Esta Vez”, uma das mais potentes e empolgantes canções power pop do ano: guitarras afiadas, melodia colante e emocional, órgão climatizando, coros vocais celestiais e a pergunta de como se reinventar para que um relacionamento siga em frente. “El Dia Que Nunca Termina” traz riff envolvente e “El Rey De La Ansiedad” revela um insone flutuando em ambiências sixties. “Falling In Love With Myself” vem na batida country-folk, cantando em inglês a confissão de amar a alguém que só sabe se amar.

“Lo Que Ves Es Lo Que Hay” começa com Rubin ao piano com som de cravo e segue orquestrada com cordas - nesta que é a primeira canção com vídeo clip do álbum. O desejo de estar longe da cidade e perto de uma vida natural é musicado pela belíssima “Los Encerraditos”, indo da batida ao piano de música americana à perfeição melódica dos Beatles – passando pelas harmonias vocais beach boyneanas. E a voz agradável de Rubin nos convida e escapar e a mostrar que no fim tudo dá certo na macia “Avenida Del Mar”.

A voluntariosa “Nada” agita na batida cativante e a linda versão para a pérola de Robyn Hitchcock “Flash Number One (Beatle Dennis)” emociona. Neste ponto já fica claro o cuidado na produção e nos arranjos do álbum, no uso de diversos instrumentos vintage para dar o clima que todo power popper sonha, como nas seguintes “Aparecer” e “Menos Es Mas”. Fecha o disco a balada acústica “Quiero Que Me Vengas A Buscar”, que do meio para o fim encerra uma apoteótica explosão de guitarras. E, que agora, nos encontra disponíveis a admirar um contemporâneo chamado Sebastian Rubin, que utiliza sua sensibilidade melódica para oferecer canções que transformam nosso presente num tempo melhor para se viver.

www.rubinlandia.com.ar
www.myspace.com/rubinlandia

quinta-feira, 30 de julho de 2009

"Home Alone": ANY VERSION OF ME!

Em 2008 ninguém fez melhor do que ele: nos transportar ao mundo do sonho sessentista onde as melodias ajudam a colorir o mais bonito pôr-do-sol e as harmonias sopram junto com a brisa mais reconfortante. Em meio a um mar de artistas que revivem a década de ouro da pop music, Backward Forever mostrou que Any Version Of Me conseguiu, um nível acima, captar a essência de uma época. Uma época cujo legado prova ter força suficiente para atravessar gerações e continuar conquistanto novos adeptos, seja aonde for.

Assim o parisiense Guillaume volta com este Home Alone, ainda com ecos sessentistas e influência de grupos britânicos, mas agora focando as referências, mais solidamente, em artistas americanos. Climas que passeiam pelos anos 70, encontrando o folk e o soft rock. E apesar da mudança de direção, o francês continua um mestre da canção pop com sua sensibilidade apurada e domínio da arte de forjar melodias puras e doces.

Em Home Alone podemos escutar algo de Crosby Stills, Nash & Young, Gene Clark, Simon & Garfunkel, mas também, ainda, os onipresentes Beatles. E as ambiências reflexivas e melancólicas refletem e traduzem, com fidelidade, o título do álbum – ainda que a intenção seja a repercussão do álbum ir além-lar, além-França, além-mar. Por isso, suas canções batem por aqui pedindo para serem compartilhadas. Nem que seja só com você, naquele canto do quarto onde a janela te mostra a desordem mundo ser ordenada temporariamente pelos 35 minutos de Home Alone.

www.myspace.com/anyversionofme

segunda-feira, 27 de julho de 2009

"Keeps You Up When You're Down": THE PERMS!

Fazer uma promessa logo no título de um álbum de rock, pode ser bastante perigoso. Quando um grupo diz que “mantém você pra cima quando você está pra baixo”, deve confiar o suficiente na sua capacidade de mexer com as sensações, através de letras, melodias, batidas e harmonias. Ainda mais em um mundo onde o estresse é uma constante da vida moderna. Aliás, todo bom disco de power pop deveria vir com a frase estampada na capa – afinal, levar o bem-estar ao ouvinte é a função primordial do estilo. Ou não?

Keeps You Up When You’re Down é o quarto disco do trio canadense The Perms, formado por Shane Smith (baixo e vocais), Chad Smith (guitarra e vocais) e John Huver (bateria). E para honrar a afirmação feita no nome do álbum, o grupo de Winnipeg oferece canções com altas doses de energia primária, servidas com generosas porções de ganchos melódicos (para que os vidros de antidepressivos permaneçam docemente intocados).

A vigorosa “Give Me All Your Lovin” chega metendo o pé na porta com suas guitarras raivosas e o vocal soando como um Paul Stanley de mau-humor (ou com a calça apertada demais...). “As You Were” abre turbinando na distorção da guitarra para logo depois adoçar nos vocais e conquistar no grudento refrão. “Running Away” envolve no brilho das guitarras e na batida dançante – ao melhor estilo das bandas japonesas de power pop.

“The Mess” traz refrão para as massas e “You Don’t Know” é talhada para qualquer rádio pop do planeta. E a fúria gentil e envolvente continua dando o tom dos Perms: “Nightshift”, “Who Are Fooling” e “Big Mistake”. A esperta “Things Left Unsaid” tem acolhida fácil nos iPods da garotada descolada; e a melodia pop escala as paredes de guitarras na faixa final “Salvation” – de onde saiu a frase-promessa feita no título do disco e cumprida com todo louvor.

www.theperms.com
www.myspace.com/theperms

quinta-feira, 23 de julho de 2009

"After School" - JENNY WOLFE!

De cara, a primeira coisa que chama a atenção em After School é capa: uma menina com a metade dos cabelos pintados de azul se apoiando em uma clássica guitarra Rickenbaker - ladeada por uma arte gráfica com ares retrô. Algo como se a nova geração interagisse com o passado, prestando suas honras e homenagens. E é exatamente disso que se trata o disco: a menina com a Rickenbaker é a texana Jenny Wolfe de 16 anos, e After School traz uma coleção de 12 covers de clássicos atemporais – além de duas faixas autorais.

Wolfe, aos 16, já é considerada uma veterana da cena no Texas. Aos 13 já tinha lançado seu primeiro disco, sob o nome Jenny Wolfe And The Pack e agora, sob os cuidados do produtor Freddie Steady Krc – ex- líder do The Explosives e atual Freddie Steady 5 – chega ao segundo álbum com este After School.

A faixa-título – composição de Wolfe e Steady - abre o disco com clima folk-country e já mostra potente voz de Jenny. Em seguida vem o clássico dos Jackson 5, a sensacional e empolgante “I Want You Back” – que segundo Jenny foi a faixa mais difícil e complexa de cantar. O bom gosto de Wolfe continua a toda a prova com “I Love You” dos Zombies e na bela canção dos Explosives “Lonely Street”, onde o próprio Krc faz os backing vocals com Jenny.

After School é quase uma ode aos anos sessenta, já que grande parte das músicas são daquela década. Como “Game of Love”, de Wayne Fontana & The Mindbenders; “Upstairs Downstairs”, dos Herman’s Hermits; “Dancing In The Streets”, de Martha & The Vandellas; “Baby It’s You”, das Shirelles e “Just A Little”, dos Beau Brummels. “Twisted Smile” é a outra obra autoral do álbum e bota a Rickenbaker da capa, e sua sonoridade jangle, para funcionar.

Interessante aqui ver uma garota de dezesseis interpretar a beleza melancólica de “Thirteen” do Big Star. E perceber que a força das verdadeiras canções pop continuam ultrapassando décadas e sendo, até, transportadas na voz da própria nova geração – como aqui bem faz Jenny Wolfe.

www.myspace.com/jennywolfeandthepack