quinta-feira, 25 de fevereiro de 2010

Power Pop: The Early Years - BLUE!

Por Daniel Arêas

O Blue foi formado em 1973 na cidade escocesa de Glasgow (de onde, décadas depois, viriam bandas extraordinárias como Teenage Fanclub, Cosmic Rough Riders e Primary 5), por Timmy Donald (bateria e vocais), Ian MacMillan (baixo, guitarra, vocais) e Hugh Nicholson (guitarra, teclados e vocais). Naquele mesmo ano a banda assinou contrato com o selo RSO Records e lançou seu álbum de estréia, homônimo.

Blue (o disco) é hoje considerado um clássico do power pop, e não são poucos os que o vêem como uma real obra-prima. As influências de Raspberries, Badfinger, Beatles, dos primeiros discos dos Bee Gees e da carreira-solo de Paul McCartney são as bases de um disco que mescla rocks vigorosos (“Look Around”, “Sitting on a Fence”, “Little Jody”) com baladas arrebatadoras, que exalam beleza e melancolia nas mesmas proporções (“Red Light Song”, “Sunset Regret”, “Timi’s Black Arrow”, “The Way Things Are”). Citar uma única canção não é tarefa fácil, mas é impossível ficar alheio ao se ouvir “I Wish I Could Fly”, possivelmente uma das mais belas – e tristes – baladas já escritas. Infelizmente, a impossibilidade de divulgar o disco adequadamente fez com que suas vendagens fossem decepcionantes.

A banda se mudou então para Los Angeles, onde adicionou o guitarrista Robert “Smiggy” Smith à sua formação e lançou seu segundo disco, Life in the Navy (1974), novamente pela RSO Records. Nele, canções como “Sweet Memories”, “Lonesome” e “Sun Sunday” mostram uma aproximação com o country rock de artistas como Gram Parsons, Neil Young e C,S&N, mas o power pop e as baladas emotivas características do disco anterior aparecem em “Atlantic Ocean”, “Love”, “Max Bygraves” e “You Give Me Love”.

No entanto, a saída de Smith da banda prejudicou a divulgação do disco, que acabou não tendo a vendagem esperada, tal como seu antecessor. Após isso, uma nova formação do Blue emergiu de várias sessões realizadas no programa de John Peel, na Radio 1 da BBC de Londres: entraram na banda David Nicholson (irmão de Hugh) e Charlie Smith (em substituição a Timmy Donald). Foi com esse line up que a banda assinou contrato com o selo Rocket Records de Elton John e lançou Another Time Flight Night, em 1977.

Another Time Flight Night (que teve co-produção de Elton John) marcou uma guinada, em termos musicais e comerciais, na carreira do Blue. É na verdade um disco de soft e pop rock setentista, à maneira de Paul McCartney, George Harrison e do próprio Elton John. Nele pode-se constatar que o talento pop da banda permanecia intacto: entre vários bons momentos, estava a irresistível “Capture Your Heart”, única canção do Blue a conseguir uma posição no Top 40 das paradas de singles americana e britânica. Fools Party (1979) viria em seguida, seguindo a mesma sonoridade de seu antecessor, mas foi o último disco da banda nos anos 70.

A rigor, o Blue jamais terminou – há registros do lançamento de dois álbuns de inéditas em 1999 (The L.A. Sessions, contendo canções gravadas pela banda entre 1979 e 1982, e Country Blue) e uma coletânea, 20, todos eles pelo selo The Record Label. Se de fato a banda não voltaria a alcançar o patamar de qualidade de Blue, também é verdade que ela continuou lançando bons discos depois. Sendo o power pop um estilo repleto de artistas e bandas que só obtém o devido reconhecimento com anos de atraso, urge redescobrir e recuperar a obra do Blue, em especial o seu seminal álbum de estréia, com inteira justiça incluído na lista Shake Some Action de John Borack.

segunda-feira, 22 de fevereiro de 2010

"The Smiles And Frowns": THE SMILES AND FROWNS!

Quando a luz solar alcança a beleza árida e inóspita da Lua, mescla seu dourado incandescente ao prateado gélido do terreno. Ilumina o solo arenoso, mas não consegue pintar de azul o céu lunar. Uma beleza estranha, plácida e surda. Uma calmaria assustadora e contemplativa. Uma paisagem que inspira medos primitivos e sonhos de ficção científica. Assim como o Smiles And Frowns pode desenhar no rosto sorrisos ou carrancas; ser uma tarde de verão tropical ou uma noite de inverno polar.

Adam Mattson e Christopher James juntam em seu álbum de estreia suas afinidades musicais e preparam uma receita sônica com elementos do folk, pop psicodélico, experimentações e efeitos sonoros. Direto do Arizona o duo trabalha no próprio estúdio e lança o primeiro disco pelo seu selo The Peppermint Hill. The Smiles And Frowns, o álbum, é uma sinergia de eras, com sonoridades antigas, instrumentos vintage e efeitos de estúdio modernos formatando sensíveis canções.

A profunda e reflexiva beleza de “Sam” abre o disco, baseada apenas em um solitário banjo e alguns ecos de órgão soprando a cortina do seu quarto escuro. A macia “Cornelius” parece captada de ondas de rádio emitidas há décadas atrás. Gaita, batida de piano e vocal gentil para a singela “The Memory Man”. Como uma peça de fantoches em um teatro fantasma, a atmosfera e o piano de “Huevos Rancheros” e a instrumental, em ritmo de valsa “March Of The Phantom Faces”, assombram.

A balada “Mechanical Songs” flutua pelo espaço sideral e, lá de cima, enxerga a Terra em algum momento dos anos setenta. E, a belíssima “Echoes Of Time”, resume o choque de sentimentos em Smiles And Frowns, com melodias bonitas e tristes em ambiências que hora confortam, hora assustam. Algo assim como o sol brilhando no profundo e negro firmamento lunar.

www.thesmilesandfrowns.com
www.myspace.com/thesmilesandfrowns

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

"Untitled": DAVID GRAHAME!

Um artesão precisa de talento, técnica e dedicação. Ter observado com atenção seus mestres, absorvendo o segredo de cada entalhe. E dar às suas obras a capacidade de provocar sentimentos e sensações naqueles que são expostos a ela. David Grahame é artesão da canção pop perfeita. Aprendeu a arte com os mestres maiores – os Beatles – e forjou um acervo de canções admiráveis. O americano baseado em Los Angeles, conduz o seu ofício sozinho e prepara suas canções em processo quase artesanal.

Para quem não conhece David Grahame, podemos apresentar: é o homem que faz as canções que Paul McCartney deveria estar fazendo. O próprio David acha loucura comparar seu talento ao de Paul, mas de fato suas canções lembram muito às de Macca em seus bons tempos – de Beatles e primeiros anos de carreira solo. Mas apesar do fino trato na composição de canções pop, Grahame só chegou às paradas de sucesso uma vez, mas pelas mãos de outros: ele é co-autor do hit do Mr. Big “To Be With You”, que chegou ao número um na Billboard.

Voltando ao presente, Untitled é seu novo álbum de inéditas. Com um conceito pouco usual para discos pop, o trabalho – além de não ter título – traz duas grandes faixas. Divididas em Side A e Side B as faixas são na verdade um conjunto de várias pequenas vinhetas e canções (também sem nome). O “Lado A” traz 10 e o “B”, 18. E, logo na faixa três, encontramos David interpretando a canção mais tocada de todos os tempos e, de certa forma, emblemática para a carreira do artista, já que encarna sua referência maior: “Yesterday”.

Em meio às 28 músicas e interlúdios, brilham diversas pérolas que poderiam figurar em qualquer álbum de Paul McCartney. Sensibilidade melódica extrema e senso pop apuradíssimo se mantêm em Untitled, confirmando o estadunidense como um dos músicos preferidos de power poppers de todo o mundo. Canções servidas como pequenas pílulas, mas que no final saciam nossa necessidade por belas melodias e harmonias – enquanto não sai a nova coleção de gemas do ateliê de Mr.David Grahame.

www.davidgrahame.com

segunda-feira, 8 de fevereiro de 2010

"Killin' For A Livin': 1220!

O título já sugere que os rapazes de Knoxville não estão pra brincadeira. Com a faca entre os dentes e o vermelho-sangue tingindo a capa do seu segundo álbum, o 1220 não quer perder um microvolt que seja da energia de sua juventude. Nem deixar de evoluir e incorporar novas referências à sua usina sonora. Se os restos de antigas influências – Led Zeppelin e T. Rex - ainda ecoam, a audição de Cheap Trick e The Knack refinaram o som dos americanos.

Formado em 20 de Dezembro (de 2000) – daí o nome da banda – o quinteto do Tennessee deixou a cargo de Don Coffey Jr, membro dos heróis locais do Superdrag, a gravação, mixagem e produção de Killin’ For A Livin’. E, claro, a sonoridade da banda de Coffey Jr. também acabou como influência no resultado final do álbum. Aqui a crueza do rock’ n’ roll visceral se encontra com as harmonias e melodias bem talhadas do power pop, em faixas cuja feitura se revezam entre três compositores – Gibson, Cover e Dover Jr.

O riff rocker de “Local Girls” já chega incendiando as caixas de som, para logo dar espaço ao refrão adesivo cheio de harmonias vocais. Jacob Gibson entrega sua voz juvenil com paixão na ultra-envolvente “Get It Out (Kimmy)”. O pop poderoso cheio de guitarras afiadas e melodia adesiva “The Motor Mile” vem em seguida, mostrando que o 1220 quer ir muito além de Knoxville. “So Far” cadencia o ritmo, realça o baixo de Michael Cover e dá brilho às guitarras de Ricky Dover Jr e Nick Kurtz.

“Feel Young” mostra força e equilíbrio na equação rock+pop enquanto “Just Wait” cativa com sua batida esperta, harmonizações vocais e refrão autocolante. “By The Sea” mescla momentos de maciez à la Brian Wilson/Burt Bacharach com rompantes de alta intensidade.
“Melody Rain” é power-ballad dissolvida num solo de guitarra final e a invocada e vigorosa “Xenobia” fecha Killin’ For A Livin’. Que poderia se chamar Livin’ For A Playin’ ou Playin’ For A Livin’, tanto faz para a gana roqueira da garotada do 1220.

www.myspace.com/knoxvilles1220