quinta-feira, 4 de novembro de 2010

"Wasted Sun": ANY VERSION OF ME!

Por Daniel Arêas

A linda capa de Wasted Sun, o novo disco do Any Version of Me, mostra a silhueta de uma pessoa, em frente à imensidão do mar, durante um pôr (ou nascer) do sol. A imagem inspiradora diz mais sobre o disco do que palavras. Wasted Sun reúne doze canções que transmitem sensações similares às que a foto da capa sugere: paz, tranqüilidade, aconchego, conforto.

O francês de Paris Guillaume (o homem por trás do Any Version of Me) já havia demonstrado em seus álbuns anteriores – principalmente no magnífico Backward Forever, de 2008 – que traz entranhado em suas veias o pop clássico sessentista. Ouvir seus discos traz uma agradável sensação de familiaridade, não apenas pela atemporalidade dos sons da época que os inspira, mas também pela certeza de que encontraremos melodias apaixonantes à primeira audição. A sensação de que estamos ouvindo discos saídos diretamente dos anos 60 é ainda mais acentuada pelo uso, por parte de Guillaume, de equipamentos vintage em seus trabalhos.

A idéia inicial era a de que Wasted Sun fosse um álbum psicodélico, no qual as canções fossem interligadas por passagens instrumentais, mas essa versão acabou sendo descartada. As composições não datam do mesmo período: das doze canções, duas foram escritas em 2002; três, em 2007 (para um álbum que se chamaria Summer After All, projeto que foi abortado); todas as restantes foram compostas em 2009. Mas isso de forma alguma afetou a coesão do álbum, que soa homogêneo.

Em relação a Backward Forever e Home Alone (2009), as canções de Wasted Sun parecem mostrar que, desta vez, o eixo musical inspirador de Guillaume deslocou-se ligeiramente da Inglaterra em direção aos Estados Unidos (mais exatamente, a Califórnia). A vocação para o pop clássico permanece intacta: ele continua compondo segundo os preceitos sagrados de vários de nossos heróis eternos (Beatles, Zombies, Beach Boys, Brian Wilson, Paul McCartney). Mas em Wasted Sun ele adiciona às canções arranjos mais elaborados, timbres mais suaves, elegantes. O resultado disso tudo é, possivelmente, seu melhor trabalho até aqui.

Há, na maior parte do disco, uma atmosfera que remete ao clássico Pet Sounds. Claro, o pop britânico da segunda metade dos anos 60 ainda exerce forte influência sobre as composições de Guillaume: a faixa de abertura “Monday” e as belas “Don’t Try Too Hard” e “Down To The Sea” são mostras disso. Mas lado a lado com estas há o adorável sunshine pop de “Normal Life” e “Early One Morning”. Nessa mesma linha segue a inebriante faixa-título, com seus leves tons psicodélicos e densas harmonias.

Com seus pouco mais de sete minutos de duração, “With the Moon” é um dos destaques do disco. Magnificamente construída e executada, consiste em uma colagem de fragmentos de canções, abrangendo estilos tão diversos como o folk, o sunshine pop e o psicodélico. A dreamy “Love” é conduzida por um órgão sutil e esparsos acordes de guitarra, e embelezada por deslumbrantes harmonias vocais; poderia ser o equivalente musical a uma caminhada pela orla, num morno fim de tarde de verão. Fecha o disco a linda “This Is Where I Wanna Live”, com seu arranjo de cordas (originadas de um Mellotron) e guitarras invertidas, evocativas da fase psicodélica dos Fab Four.

Ao fim do disco, fica evidente: é o ouvinte (nós), aquela pessoa na capa, em frente ao mar. Há mesmo momentos em que tudo de que precisamos é algo assim: observar o sol surgir (ou desaparecer) por detrás do mar, e nos isolarmos de todo o resto. Ou, alternativamente, ouvirmos canções que despertem sensações equivalentes, ternas e reconfortantes. O local e o momento ideais fica a nosso cargo escolher; as canções encontramos aqui, do princípio ao fim de Wasted Sun.

http://www.anyversionofme.com/
www.myspace.com/anyversionofme