quarta-feira, 22 de junho de 2011

"Beatlesque Three" - ALAN BERNHOFT!

Não que o título esteja querendo um abrigo para justificar a semelhança; ele é deliberado e apenas deixa claro que preza a homenagem. Você pode dizer que os Beatles não precisam de mais uma prova de admiração, mas eu te digo que a força de um legado é irrefreável. Beatlesque Three, algo como “À La Beatles Volume 3”, emula sim os quatro de Liverpool, parece sim o som que faziam... mas, e daí? Alan Bernhoft gosta de compor inspirado pela cartilha beatle e nós adoramos ouvi-lo. Ponto.

No terceiro disco da série Beatlesque, o músico de Los Angeles – que toca todos os instrumentos e grava tudo no A.I.M Studios (que fica no... seu quarto!) - continua dando de ombros para a crítica mainstream (que o chamaria de ‘pastiche’), para os puritanos (que o chamaria de ‘copista’), e, sinceramente, eu faço trancinhas virtuais com minhas rugas de preocupação. O que importa aqui não é medir relevância artística, grau de ousadia ou as doses de inovação. Simplesmente sentir o quanto as melodias podem dizer algo a você.

E não se importe com a qualidade da gravação, porque o registro é caseiro, sem grandes produções. Procure o quanto os raios de “Sunny Sky” – faixa que abre o álbum – podem iluminar seu dia entediante: a simplicidade de seus coros vocais, a ingenuidade saudável da sua melodia e o estalar de dedos ritmado, podem colocar as coisas no lugar. Já “Everybody Smiles” eleva o tom emocional com uma certa graça: é o que seria a faixa de Ringo Starr do disco.

Em “Civilization” baixa a incrível força melódica e emocionante de John Lennon, a modo de “Mind Games”, com a diferença que o mundo a se mudar é do tamanho da sua sala de estar. “Miss Vonnie” vem macia na batida do piano, na voz doce de Bernhoft e, de repente, encaixa um refrão adorável e irresistível no meio do seu queixo. Jogos de vocais vindos diretos dos anos sessenta exercem o poder de ficar ecoando algumas horas no seu cérebro em “So Shine Away”.

Um terno vibrafone traz a balada - quase uma canção de ninar - chamada “Chun Li” (a versão chinesa de Yoko Ono?) antes do piano de Alan mostrar outra linda canção inspirada em Lennon: “Colliding Circles”. Podem dizer que simula “Imagine”, mas eu não estou interessado, conheço muito bem a obra dos Beatles e de John Lennon solo.

Estou bem mais preocupado em deixar que estes acordes e melodias - descidos dos céus - preencham algumas lacunas emocionais que estão lá, só esperando por isso. Ah, e antes que eu me esqueça, o álbum se encerra com “Honey Love” que sim, parece com “Honey Pie”. E daí?

http://www.alanbernhoft.com/

segunda-feira, 13 de junho de 2011

"Vessels" - BRYAN ESTEPA!

Hoje é uma inspiradora e agradável manhã de um domingo outonal, em uma cidade encravada entre os trópicos. É meu aniversário de casamento, o que não faz necessária qualquer sugestão de que seja um dia especial. Então estou aqui, sentado de frente para um jardim que balança ao sabor do vento e que parece fazer questão de combinar seu verde esmeralda com o azul profundo do céu. Mas eu resolvi trapacear a natureza e pus um disco para tocar e sugerir assim que a vegetação ali fora dança enfeitiçada pelo ritmo das canções.

Eu coloquei o novo álbum de Bryan Estepa, porque se é para justificar que as plantas se dispõem a acompanhar as nossas músicas, que seja algo especial.Vessels se apresenta como o terceiro disco do Australiano de Sydney, e, sem dúvida, seu trabalho mais inspirado. E eu convido a todos para sentar em círculo e ouvir o cantor-compositor aplicar suas doses de pop sessentista, de folk, de soft rock, de power pop.

A encantadora “Won’t Let You Down”, com seu refrão memorável e um Fender Rhodes trocando passos com o piano, só precisa de duas audições para você sair cantando por aí. E o mundo volta a girar para ouvir guitarras acústicas sendo cortejadas por um órgão Hammond sem pudor, só para Estepa oferecer o belo refrão em “Hard Habits”. E eu vejo lá fora, claramente, as árvores acompanhando com os galhos, os arbustos batendo palmas e o vento soprando junto as harmonias vocais de “Tongue Tied”.

O difícil para o coro verde vai ser acompanhar o tom emocional que Estepa dá às suas canções: ele canta com o coração, e isso já é raridade levando em conta que metade da população mundial carrega uma pedra dentro no peito. Ouça então a beleza de “Purple Patch”, que é amplificada pelo Hammond de Tim Byron e pela gaita de Jadey O’regan. Mas vamos deixar Bryan tocar a sua balada sentimental “Pull Ourselves Together”, porque ele tem muito a dizer mesmo que você não entenda uma palavra de inglês.

“Alone” contagia na batida energética, backings perfeitos, órgão invocado, palminhas sixtie e esperto jogo de guitarras. E vamos passeando pela delicadeza eloqüente de “Let It Go”; pela doçura com toque country e refrão colante de “First Impressions”; e o classicismo em tons norte-americanos de “Shade”. “Instincts” vem nos lembrar que Bryan Estepa conhece muito bem os meandros de como dar poder ao pop e “Unglued” simula a sensação universal da desilusão amorosa, que pode não ser uma realidade agora, mas certamente um dia já foi.

“Ball And Chain” fecha Vessels em altura suficiente para meu jardim acompanhar animadamente o ritmo empolgante da canção. E eu reparo que não há vento nem brisa lá fora... apenas uma onda de canções vindas de longe em um dia muito, muito especial.

http://www.bryanestepa.com/

www.myspace.com/bryanestepa